segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Cuidado! Perigos à frente...

As obras de duplicação da avenida Antônio Carlos trazem insegurança à comunidade local

Por Gabriela Porto, Natália da Costa e Oswaldo Diniz
Fotos de Natália da Costa

As obras na avenida geram controvérsias sobre os benefícios para a população

Por dia, 85 mil pessoas circulam em uma das maiores avenidas de Belo Horizonte – a Antônio Carlos. E quem não passa pela avenida há um ano e meio, dois anos, não a reconhecerá. Desde 2008, a Antônio Carlos está em processo de duplicação. Para a cidade, esta obra será de grande importância devido ao número cada vez maior de carros nas ruas. Já para as pessoas que são afetadas diretamente pelos impactos da obra, a situação não é tão otimista.

Segundo dados divulgados em site do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (disponível em http://www.marciolacerdabh.com.br), foram investidos cerca de R$ 250 milhões nas obras de duplicação da avenida Antônio Carlos. Ampliação esta que, dada sua importância, foi assumida pelo Governo Estadual, o que imprimiu a ela um ritmo célere. A expectativa era de entrega do viaduto da rua Operários em outubro, mas já é novembro e a obra não ficou pronta até agora. De acordo com a avaliação do governador Aécio Neves numa visita feita em junho deste ano às obras, a previsão de entrega de todo o novo Complexo Viário da Lagoinha é em março de 2010. “Mais especificamente no dia 28”, segundo o site.

Tudo isso, ainda segundo o governador, para benefício daqueles que circulam diariamente pela região: cerca de três milhões de pessoas. Gerando empregos, atraindo novos investimentos, “movimentando o comércio e agilizando, com segurança, o deslocamento de trabalhadores”. Estas foram as palavras usadas pelo governador, na ocasião. Mas, há que se ressaltar uma, dentre outras do discurso: segurança. Existe, de fato, segurança na região? A impressão que se tem, mesmo para um transeunte ocasional, é que esta não é uma realidade. A menos que o governador se referisse a um futuro, que ainda parece distante. E, até agora, inseguro.

Este é, aparentemente, o cotidiano de trabalhadores, estudantes, jovens, idosos, enfim, de todos os que circulam pelo bairro Lagoinha diariamente, em seu itinerário rotineiro. Para os pedestres, as calçadas praticamente inexistem, até mesmo para um trajeto rápido, que tem se tornado cada vez mais perigoso. Seja do ponto de vista do trânsito, seja do ponto de vista da segurança pública.

Pedestres e trabalhadores convivem diariamente com a falta de segurança

Com as obras, foram desapropriados aproximadamente 300 imóveis, entre comerciais e residenciais. E, com tais desapropriações, vieram ocupações desordenadas, em sua maioria por andarilhos, que podem ser ou se tornar marginais, assaltantes. Considerando-se que a região já abriga um dos aglomerados de Belo Horizonte famoso pela criminalidade, a “Pedreira Prado Lopes”, a situação foi agravada e o ambiente se tornou inóspito.

Além disso, o trânsito ficou caótico. A tensão chega a ser palpável e pode ser percebida nas imprudências cometidas a todo instante, que põem em risco a vida de pedestres e condutores. Em apenas alguns minutos de observação, num ponto próximo ao Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), pode-se comprovar isto. São motoristas e motociclistas que não respeitam o tempo dos semáforos, pedestres que atravessam fora da faixa (sim, ela existe, embora não seja utilizada!), operários que transportam material em passagem destinada a pedestres, dentre muitas outras situações de risco.

A desejada segurança, para muitas pessoas, ainda não faz parte deste cenário. Outras, entretanto, nem mesmo percebem sua ausência, tão imersas estão em sua rotina. Tais pessoas se adaptam. Acostumam-se à violência, às condições adversas, às mudanças. E vão convivendos com tudo isso, mesmo a contragosto, para continuarem vivendo. Para algumas delas, torna-se até um modo de viver.



Mudar é preciso

A sinalização e as medidas de segurança são insuficientes, segundo os transeuntes

Alheios a detalhes de segurança, muitos trabalhadores saem de sua terra natal para tentar a vida nas metrópoles. Nas obras da Antônio Carlos, algumas histórias e estórias são parecidas. “Aqui tem mais gente de fora do que daqui mesmo. Tem cidadão do Maranhão, Piauí, e Pernambuco”, diz o carpinteiro José Carlos Gonçalves da Silva, 26 anos. Ele mesmo reforça o time nordestino no escrete dos forasteiros. Natural de Paulo Afonso, no interior da Bahia, o rapaz veio a pedido do consórcio Andrade Gutierrez/Barbosa Melo, responsável pelo andamento das obras de duplicação. “Tinha acabado de chegar do Rio de Janeiro. Eles tinham meu currículo, fiz testes e fui aprovado”, conta.

A vida quase nômade em prol da sobrevivência não é novidade para José Carlos. Há dez anos trabalhando como carpinteiro, ele já trabalhou, além do Rio, em Belém, Maceió, Aracaju, no Maranhão e no Piauí. Belo Horizonte, antes da fase atual, já fez parte da rota do baiano. “A primeira vez foi em 2004. Trabalhava ainda como auxiliar de carpinteiro”, lembra. Segundo o jovem, a melhor cidade em que viveu foi o Rio de Janeiro. “Lá é bom demais! As praias, a diversão, a mulherada”, comenta o eufórico baiano. A capital mineira também traz outras lembranças, mas não muito positivas. A primeira vez em que esteve aqui foi, para o nordestino, a pior experiência fora de sua terra. “Morava no bairro Eldorado, chegava em casa muito tarde e saía muito cedo. E o trânsito era péssimo”, reclama.

Atualmente, José Carlos não critica a nova fase mineira. Há sete meses na capital, morando na rua Diamantina com rua Rio Novo, no epicentro de seu trabalho, sua qualidade de vida se elevou. “Não pego ônibus e acordo minutos antes de bater o ponto”, brinca. Quando questionado sobre a violência na região, o baiano “banca” o mineiro. “Nunca vi nada, nem ouvi”. Segundo o rapaz, o povo da cidade é tranquilo. “A maioria é sangue bom. Gente ruim tem em tudo quanto é lugar mesmo”, reflete. Para ele, quem chega de fora precisa entender e se deixar cativar pelos nativos. “O cara tem que saber chegar e fazer amizade”, orienta.

Forçosamente afastado da família, o carpinteiro possui um filho de quatro anos, criado com a avó. “Ligo pra eles três vezes por semana. Dá pra matar a saudade”. José Carlos pretende trazer para a capital mineira um casal de irmãos. O caçula, que está com 21 anos, é montador e desenhista. A irmã, de 28, trabalha como doméstica. “Quero vê-los estruturados aqui e depois vou embora”, revela. Sua intenção é trabalhar como montador de andaime em plataformas.

O carpinteiro fez um curso básico de sobrevivência no mar e espera a hora certa de agir. “Tenho como fechar acordo a qualquer hora. Lá eles pagam melhor e você trabalha 15 dias direto, depois folga a outra metade do mês”, explica.

José Carlos ganha, com as horas extras, entre R$1.300 e R$1.500 por mês. Além da remuneração em dinheiro, ele recebe alimentação e atendimento médico na própria obra, tem convênio com farmácias, recebe vale-transporte e cesta básica. O suficiente para se manter sem grandes preocupações, segundo ele. E ainda fazer umas gracinhas. “Adoro passear pela cidade. A Praça da Liberdade é o ponto mais bonito”, fala. Mas a que nordestino não resiste mesmo é o bom e velho forró. “Vou ao Bailão Sertanejo, Terra de Minas. Divirto-me bastante”. E as casas de shows daqui têm dado sorte ao baiano. “Há um mês conheci uma mulher e já estamos namorando”, revela, animado.


Polícia está atenta


A população tem medo de circular pela região da Lagoinha

Quando as pessoas passam no entorno das obras, especialmente no trecho entre o Hospital Belo Horizonte e a região da Lagoinha, elas encontram um cenário deplorável. Vários andarilhos, com aspecto nada agradável, se agrupam na extensão da avenida Antônio Carlos, muitos à procura de sustentar seu vício do crack. A sensação de insegurança é visível no semblante dos pedestres. “Morro de medo de passar aqui. A qualquer hora do dia, posso ser roubada”, diz a estudante Verônica Lopes.

Para o Major Perez, comandante da Companhia 21, do 34º Batalhão da Polícia Militar, o quadro se complicou com a duplicação da avenida. “Depois da derrubada de imóveis antigos, traficantes e usuários de drogas passaram a movimentar o comércio ilegal livremente”, conta. Para combater a criminalidade na região, segundo o oficial, trabalham em equipe militares das companhias Tático Móvel, Rotam, Polícia de Eventos, Canil e Radiopatrulhamento Aéreo, além dos oficiais da companhia comandada por ele. Mas a quantidade do contingente não é revelada. “Se você conhecer o tamanho do seu oponente, a guerra já está vencida”, comenta.

Apesar do quadro considerado instável pela população, o Major revela que os índices de reclamações não se alteraram. “A ocorrência só é confirmada quando há presença policial para oficializar o fato. Caso contrário, não existe”, explica. Segundo o militar, a visibilidade dos possíveis meliantes assusta quem mora e frequenta a região da Lagoinha. “Antes eles estavam escondidos. Agora aparecem com mais força, justamente porque os esconderijos foram demolidos”.

Ainda de acordo com o Major, existem dois tipos de segurança. A objetiva e a subjetiva. “A objetiva é o fato presencial, palpável. A subjetiva se refere ao sentimento das pessoas em relação à segurança”, explica. E é esta última que vem provocando alarde na população. “Muitos se sentem inseguros por causa do cenário de andarilhos e lugares propícios à prática de crimes”.

Entretanto, o policial acredita que toda a preocupação tende a diminuir com o término das obras. “À medida que os lugares onde eles ficam passarem a deixar de existir, muitos vão para diferentes regiões”, comenta. Segundo o Major, outras vertentes do poder público podem auxiliar no processo. “Contamos com os projetos sociais da prefeitura, que podem recolocá-los no mercado de trabalho, mandá-los de volta para suas cidades, ou encaminhá-los para clínicas de reabilitação”, explica. O oficial diz ainda que, atualmente, nem todos os andarilhos são criminosos. “Muitos estão trabalhando, catando ferro e papel para vender. Como não é possível identificar a conduta apenas pelo aspecto visual, fica difícil saber quem é bom ou ruim”, lamenta.



Nova Antônio Carlos – mais um passo rumo ao progresso


As obras trazem melhorias para a cidade e problemas para a população

O projeto de duplicação da avenida Antônio Carlos já está em sua última fase e a previsão de término é março de 2010. Nessa etapa, o trecho em obras vai da rua dos Operários até o Complexo da Lagoinha.

“Não aguento mais ter que passar por essa Antônio Carlos toda esburacada. É engarrafamento todos os dias, mas sei que é por uma boa causa”, desabafa a estudante de História, Luciana Pimenta.

No total serão duplicados quase quatro mil quilômetros, do bairro São Francisco até o Centro, com o custo final de R$ 250 milhões, sendo 190 do governo do Estado e 60 da Prefeitura. Para que a obra se tornasse viável, foram feitas mais de 300 desapropriações, 240 só na segunda etapa. Segundo a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas, a previsão é que a duplicação da Antônio Carlos beneficie diretamente mais de três milhões de pessoas, com fluidez e agilidade no trânsito, redução de custos nos transportes, maior segurança nas imediações da avenida, além da geração de emprego.

A Antônio Carlos é a principal via de acesso da Região da Pampulha e nela estão localizados importantes pontos da capital, como a Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, o Aeroporto da Pampulha, o complexo esportivo do Mineirão e Mineirinho. Com a conclusão das obras, a via será uma alternativa rápida de ligação ao Aeroporto Internacional Confins e ao Expominas, junto com a Linha Verde.

“Acredito que esse conjunto de obras também será de grande importância na realização da Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016, uma vez que Belo Horizonte terá participação já confirmada nos dois eventos.”, afirma o engenheiro Geraldo Azevedo, que está no projeto desde o início. Segundo Geraldo, a cidade ganhará agilidade no transporte de turistas e atletas dos aeroportos e hotéis ao Mineirão. “Será um momento inesquecível para BH e para o País. Tenho orgulho de estar fazendo parte dessa história”, completa.




Previsão de como ficará o viaduto na rua Rio Novo

Um comentário:

  1. -Sugiro que utilizem um manual para normatizar o texto;
    -Semântica: convivendos (-1);
    -Acabou o trema.

    Nota total: 25/25.

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