segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Entre transtornos e benefícios

Por Danilo de Castro, Igor Dias Pinto e Matheus Araújo

Novembro de 2009. O fim do ano está bem próximo. É época de natal. As pessoas ficam mais felizes e generosas. O “bom velhinho” chega para fazer a festa do varejo e todos trocam seu dinheiro por algo que será importante para o ano que vem. Pode ser um terno para um possível emprego novo, pode ser um carro para ajudar à temerosa mãe a dormir mais tranqüila enquanto espera seu filho chegar da balada ou pode ser uma reforma na casa para vendê-la por um preço maior. A população começa a planejar sua vida para o ano seguinte e, na política, não é diferente. A “reforma” promovida pelos governos já começou, pois o 2010 é ano de escolhas.

José Vanderson, 26, há quatro meses faz parte da mais nova “reforma” que deverá ser entregue pelo Governo de Minas Gerais. O servente de pedreiro (ou "auxiliar para serviços de engenharia", como dizem alguns) é mais um entre os milhares de operários que formam os braços que sustentam a obra de duplicação da avenida Antônio Carlos. Pele castigada pelo sol, cabelo ressecado e macacão azul rajado pela cor vermelha da terra, que também toma conta de toda a paisagem da região da Lagoinha. São horas de trabalho em um calor de quase 40 graus. São dias e mais dias se escondendo em meio aos tratores e caminhões para conseguir ficar de pé. Entretanto, José não perde as forças, pois carrega nas costas, além dos dizeres “uma obra do Governo do Estado de Minas Gerias e Prefeitura de Belo Horizonte”, a responsabilidade de pai de família. “São dois filhos pra criar. Trabalho todos os dias três horas extras pra poder ganhar um pouco mais”, diz o operário. Ele ainda afirma que só tem direito a uma folga por mês. É a força da “locomotiva” do Estado que não pode parar.

A obra, por ser de grande porte, mexe com a vida de várias pessoas. Maria Clara Alves, estudante do ensino médio, acredita que o trabalho feito na Avenida Antônio Carlos é necessário. “São muitos carros que passam aqui pela avenida e trânsito estava ficando insuportável”, afirma a estudante. Ela acredita que, com as mudanças que estão sendo executadas, a via não terá mais engarrafamentos e que é preciso ter paciência com este período de obras. Já os motoristas não estão muito satisfeitos com toda essa mudança. O comerciante Valter Rodrigues diz que passar pela Lagoinha de carro está muito complicado. “Cada dia é uma alteração no trânsito e a gente fica sem saber onde vai parar”, conclui.

O certo de tudo isso é que, até agora, muitas pessoas foram desalojadas e tiveram suas casas destruídas para a conclusão da obra. Porém, nada disso tem caráter ilegal. Em nossa Constituição Nacional reza que o bem comum está acima do bem particular. Portanto, é pensando em beneficiar milhares de pessoas que a obra em sido realizada a todo vapor. A pergunta a ser feita é para onde todo esse entulho das casas é transportado. Após entrar em contato com a Secretaria de Transportes e Obras Públicas do Estado para perguntar sobre o destino desse entulho, nossa reportagem só obteve a confirmação de que seria respondida. Até agora, não houve uma resposta oficial para o questionamento. O operário Luciano Araújo, contudo, disse que os destroços da Antônio Carlos vão para um bota-fora na Avenida Pedro II, mas não soube informar o local exato.

O fato é que a população anseia por uma via de acesso rápido para chegar ao centro da cidade. Em contra partida, o Governo de Minas assumiu o término da duplicação da Antônio Carlos visando uma via de acesso rápido para Brasília. Vale lembrar que 2010 é ano de eleições no Brasil. O Governo de Minas ajuda a população mineira e a população mineira ajuda o Governo de Minas. Com isso, essa “reforma” que o Governador está fazendo em BH pode lhe garantir uma casa nova em 2011.


Transtorno passageiro?


A segunda fase de ampliação da Avenida Antônio Carlos está causando transtornos aos usuários da via. O fluxo intenso de automóveis e pedestres colaboram com a piora do trânsito no local.

Pistas obstruídas além dos passeios degradados geram reclamações de todos os lados. Juliana Silva, estudante do Uni-BH diz que prefere ir a pé do que usar ônibus para chegar à faculdade por causa do trânsito intenso. Ela acredita ainda que as obras não farão muita diferença depois de finalizadas. “A quantidade de carros nas ruas aumenta a cada dia. Quando a obra for concluída, a avenida já não comportará mais o volume de automóveis e o trânsito vai continuar como estava antes das obras.”

Para Willian Andrade, que viaja com veículo próprio da sua casa, em Santa Luzia, ao trabalho, na Zona Sul da Capital, a solução seria um sistema férreo que atendesse com qualidade o maior número de pessoas. “Os trabalhos que estão sendo feitos vão ajudar, mas se o metrô fosse bom eu deixaria o carro em casa”. Ele trocou a Antônio Carlos pela Avenida Cristiano Machado por causa das obstruções promovidas pelas obras.

Conforme dados da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte, BHTrans, a avenida tem cerca de 9 quilômetros e 80 mil carros circulam hoje na via que é a principal ligação entre o Centro da cidade e as regiões da Pampulha e Venda Nova. Porém, estatísticas da própria empresa mostram que, com a criação do novo centro administrativo do Estado de Minas Gerais, na região norte de BH, o volume pode aumentar em cerca de 30 mil carros por dia.

As demolições permitirão a expansão de três para quatro pistas nos dois sentidos além das quatro faixas exclusivas de ônibus. O projeto conta também com a criação de sete viadutos que servirão como alças de acesso para a avenida e dela para os bairros e avenidas coletoras da região.

Mas, de nada servirá todo o dinheiro gasto com desapropriações e demolições, se os problemas de gargalos no curso da Avenida com o viaduto da Lagoinha, no sentido centro e com a Avenida Dom Pedro I na Barragem da Pampulha não forem solucionados com o mesmo empenho.

Outro agravante é a quantidade de semáforos espalhados por sua extensão que travam o desenvolvimento do tráfego. Uma solução seria um maior investimento na construção de passarelas que excluiria os semáforos exclusivos de pedestres, deixando apenas os já existentes nos entroncamentos de pista.


A obra em números


O Governo de Minas Gerais firmou parceria com a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e investiu R$ 250 milhões na última etapa da duplicação da avenida Antônio Carlos, delegando a administração das obras para o consórcio das empresas Andrade Gutierrez e Barbosa Mello. Dessa verba, R$ 139 milhões (ou 56,6%) são destinados à infraestrutura, e R$ 111 milhões (44,4%) em desapropriações – até o presente momento, 240 imóveis foram desalojados. Os dados são da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop).

Pelos cálculos do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot), a empreitada gera cerca de 4700 empregos diretos e indiretos, sendo 375 deles na região da Lagoinha. O Sicepot prevê a criação de um emprego para cada R$ 30 mil investidos diretamente em infraestrutura.

As pistas da avenida, que atualmente possuem 25 metros de largura, passarão a ter 52 metros. O projeto também contempla a implantação de 12 faixas de tráfego (em cada sentido, são quatro faixas para veículos em geral e outras duas reservadas para o transporte coletivo), melhorias na distribuição de energia elétrica ao redor da avenida e a plantação de 1500 árvores no entorno da via.

Serão erguidos sete viadutos, cada um com duas faixas por sentido. A intenção é absorver o crescente número de veículos em circulação na cidade, além de facilitar o acesso aos bairros adjacentes. A previsão para a conclusão das obras é para março de 2010, e todo este processo teria participação também no projeto para a Copa de 2014.

Se, por um lado, o trânsito na região vem sendo bastante prejudicado, e nisso as reclamações dos motoristas estão cobertas de razão, vale ressaltar que o dinheiro público está sendo bem utilizado e que milhares de empregos estão sendo gerados – o equivalente a uma pequena cidade. Os prédios abandonados da avenida foram demolidos e darão lugar a vias arborizadas – um trabalho paisagístico que tornará não só o trânsito, mas a própria visão do percurso mais agradável.

Como vemos, o transtorno gerado é inevitável, mas observa-se que a duplicação da avenida Antônio Carlos não apenas beneficiará o trânsito da região, mas também permitirá o uso potencial da via para ligar o Aeroporto de Confins ao Expominas. Este fator pode alavancar o turismo de negócios em Belo Horizonte, tendência que vai se firmando na capital pela sua localização estratégia em relação aos outros centros metropolitanos do país.

Um comentário:

  1. -O trema acabou!;
    -Não há sujeito começando com preposição: Nossa constituição reza (-1);
    -Não se esqueçam do Manual para normatizar o texto;
    -Concordância: O fluxo colabora (-1);
    -Vírgula entre sujeito e verbo: Juliana diz (-1).

    Bom texto!

    Nota: 23/25.

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