segunda-feira, 2 de novembro de 2009

OBRAS NA AVENIDA ANTÔNIO CARLOS TÊM ALTERADO TRAJETO DA POPULAÇÃO

Fernanda Toussaint, Stefânia Antonaci e Ursula Nogueira
O bairro Lagoinha nunca mais será o mesmo. Devido às obras dos túneis do Complexo, a região central de Belo Horizonte está a cada dia perdendo suas características de zona boêmia. As obras, que tiveram início em janeiro deste ano, têm previsão de término em até três meses, segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). Avaliada em mais de R$ 17 milhões, a reforma tem como objetivo reduzir as infiltrações, melhorar a rede de drenagem no local e construir novas vias de acesso que vão interligar as avenidas do Contorno, Antônio Carlos, Pedro II e Cristiano Machado. As alterações fazem parte do projeto de duplicação da Avenida Antônio Carlos. Com estas obras, haverá redução do impacto do trânsito no Hipercentro. De acordo com a BHTrans, no Complexo da Lagoinha, circulam aproximadamente 80 mil veículos por dia.

Os túneis, construídos nas décadas de 70 e 80, passam pela primeira intervenção na área, segundo a Sudecap. No projeto de construção e reforma, está a instalação de nova sinalização, recapeamento do asfalto, instalação de 13 mil metros quadrados de azulejo branco lavável (contra pichação e também com a função de clarear o interior dos túneis), além da recuperação da passagem para pedestres e um novo sistema de iluminação, um dos itens mais esperados da obra. O trabalho é feito nos dois sentidos do trânsito, durante todo o dia, e se estendendo à noite. Antes mesmo do término das obras, já se pode observar, em algumas áreas o vandalismo com pichações nos túneis reformados.

Um projeto de paisagismo será feito para evitar ocupação irregular. Segundo a Prefeitura de Belo Horizonte, entre as intervenções que demandam mais tempo, estão a construção de passagens inferiores que ligam a Avenida do Contorno (viaduto Oeste) à Cristiano Machado e uma conexão entre a Antônio Carlos e a Contorno. Será feita também uma passagem superior conectando a Pedro II às avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado.


COMO FICOU A VIDA DOS MORADORES

As obras da Antônio Carlos eram, há muito, esperadas por todos os moradores da região da Pampulha, Venda Nova e adjacências, pois o trânsito estava caótico, e a via inoperante para o fluxo de veículos. A duplicação da avenida é de extrema importância para alavancar, ainda mais, o desenvolvimento das regionais Norte e Pampulha, em BH, tendo em vista a requalificação e melhoria estética desta importante via de acesso.

Trata-se da maior obra viária, hoje, em execução na nossa capital e uma das mais grandiosas das últimas décadas. E, obviamente, traz impactos e aborrecimentos, pois, muitas pessoas tiveram sua história de vida construídas nestes bairros e foram obrigadas a aceitar a desapropriação. Tiveram que deixar vizinhos que se tornaram quase irmãos e uma vida toda para traz, mas é o preço que se paga pela expansão da cidade, necessidade de implementação do tráfego e mais conforto para toda comunidade.

O Governo indenizou as famílias dentro dos parâmetros legais e normais. Mas, estes valores, não sobrepõem aos desejos dos antigos moradores da região. Antiga moradora da área afetada, Mariza Almeida, lamenta e sente profundamente a falta do convívio de muitos anos com os amigos e vizinhos. “Minha indenização foi justa. Mas escolhi aquele lugar pra morar e não queria sair dali em momento algum de minha vida! Desde a construção de minha casa, tudo foi planejado durante longos anos”, lamenta Mariza. A ex moradora do bairro Lagoinha diz, ainda, que agora será necessário cultivar novas amizades, já que os antigos amigos e vizinhos se espalharam por toda a cidade.

Já o casal, Maria Aparecida Oliveira, 68, e José Antônio Silva Oliveira, 73, não quis de maneira alguma sair do bairro. Protestaram em deixar a moradia. Ainda moram na Rua Diamantina, bem no meio da área de construção e até precisam ser hospitalizados devido a poeira da obra. José Antônio diz que está vivendo em total insegurança. Não sabe se vai continuar morando ali ou se, a qualquer momento, terá que deixar o apartamento aonde mora e ir para um lugar desconhecido. “A Prefeitura não nos informa sobre nosso futuro, não há como prever o dia de amanhã”, reclama.


Segundo o Vereador Alberto Rodrigues, se por um lado é difícil sair do local em decorrência do progresso, por outro, é preciso enxergar os benefícios futuros. É preciso que a população tenha paciência e pense no resultado da obra. “Ordem e progresso? Onde há progresso, não há como ter ordem”, concluiu o vereador.

IMPORTÂNCIA DA VIA

A Avenida Antônio Carlos é a principal artéria de trânsito da região da Pampulha, bem como de grande importância para a cidade. Nela, está localizado o Campus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH) e vários outros pontos de relevância para população.

A conclusão desse projeto é considerada estratégica para a cidade. Não nos esquecendo do acesso direto ao Estádio do Mineirão, principal arena esportiva de Belo Horizonte, que receberá jogos da Copa do Mundo de 2014.
Construída no governo de Juscelino Kubitschek para dar acesso à região turística da Pampulha, a Avenida Presidente Antônio Carlos começa na região central de Belo Horizonte, no tradicional bairro da Lagoinha, e se estende por cerca de oito mil metros, na direção norte até a Barragem da Pampulha. Ela atravessa bairros populosos como Cachoeirinha, Aparecida, Bom Jesus e São Francisco.


EDIFICIO ANGICO NÃO É DEMOLIDO



O Edifício Angico, localizado na rua Emanuel Macedo, 69, chama atenção dos que passam pela avenida Antônio Carlos. Ele é uma das poucas construções que não teve que ser demolida nesta última etapa das obras de duplicação da via. Desde julho, os moradores e as pessoas que trabalham nas proximidades do prédio sofrem com a poeira, barulho, e eventual falta de água e luz. A opinião dos que frequentam o local a respeito dos transtornos causados pelas obras é unânime.

Maria Ângela França Ruas, de 70 anos, que há 22 anos mora no prédio, disse que não tem palavras para descrever os prejuízos que vem sofrendo. “Já tive quatro crises alérgicas de rinite desde que tudo isso começou. Há dias que só consigo dormir a base de remédios. O barulho das maquinas é 24 horas por dia”, desabafa.

Segundo Maria, comércios como supermercados, farmácias, sacolões e agência dos Correios foram todos demolidos. Ela afirma que o lugar mais próximo, quando precisa comprar alguma coisa, é no Centro, ou então tem que andar quatro quarteirões em um morro muito íngreme. “Como a rua está fechada, nem táxi para na porta”, ressalta.

Sônia Maria de Oliveira Marcos, moradora do edifício há 18 anos, conta que o maior problema que está tendo por causa das obras é em relação ao ponto de ônibus. De acordo com ela, o ponto ficou muito distante tanto para ir, quanto para voltar, e a noite, isso acaba se tornando perigoso. Outra questão colocada por Sônia é o fato de muitos motoristas não estarem respeitando o semáforo vermelho. “Estamos atravessando a avenida com muito risco. Já pedimos inclusive para a prefeitura colocar alguém da BHTRANS neste ponto” afirma.

Há dois meses Sônia quebrou o pé ao tropeçar em um buraco em meio às obras. Ela disse que não foi a única que se machucou por causa das construções. “Outro dia, quando voltava da faculdade, vi na rua Formiga, esquina com avenida Antônio Carlos, um corpo. Tinha um resgate, mas como a pessoa já estava em óbito não tive certeza se foi um atropelamento. Eu nem tento atravessar naquele local porque está muito perigoso”, comenta.

Nanja Deulboux Barros de Castro, proprietária do Centro de Formações de Condutores Praticar, que há oito anos se encontra instalado em uma das lojas abaixo do prédio, informou que como o acesso até a auto-escola está difícil. Com isso, acabou tendo redução no número de alunos. Ela acredita que quando tudo estiver pronto, o acesso até a Antônio Carlos irá melhorar e, sua expectativa é que o número de alunos dobre.
Alexandre Câmara, da empresa Minas Telecomunicações, também se encontra instalado em uma das lojas do edifício Angico. Segundo ele, não tem jeito de fazer uma obra como essa sem trazer impactos a sociedade. Entretanto, Alexandre afirma que os danos poderiam ter sido amenizados.


José Carlos Vaz, porteiro do Edifício há 11 anos, disse que vários moradores já ficaram presos dentro do elevador. “A Cemig e a Copasa não mandam nenhum aviso que irão cortar luz ou água. Desde ontem, estamos sem água aqui no prédio. Ligamos para a Copasa e ela informou que foi divulgado na televisão e no rádio. É um descaso muito grade”, afirma.


Segundo a Assessoria de Comunicação da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (SUDECAP), as pessoas não precisaram ser desapropriadas, uma vez que o edifício não está na linha de nenhum ponto que passará a via. Porém, os moradores foram avisados que poderiam sair do local caso a estrutura do prédio fosse abalada. “A última vistoria realizada pela Andrade Gutierrez, há alguns meses, não apontou qualquer alteração”, afirma Frederico Augusto de Carvalho, morador a dois anos do prédio.

A corretora de Imóveis Peixoto e Associados, que atualmente possui apartamentos para locação no Angico, não soube informar se, com a finalização das obras, a tendência dos imóveis é valorizar. “O trânsito intenso, junto com o grande barulho, pode ser um fator negativo”, comentou um funcionário que preferiu não ser identificado.

Vários moradores, como a Sra. Maria Ângela, só estão esperando as obras acabarem para ficar bem longe da Antônio Carlos. “Preferia ter sido desapropriada. Não vendo meu apartamento agora porque estou com a esperança de apurar um melhor valor quando tudo estiver pronto”, finaliza.


COMÉRCIO NA AVENIDA ANTÔNIO CARLOS
NÃO É MAIS O MESMO

A duplicação da Avenida Antônio Carlos prevê muitas melhorias para a população da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). De acordo com o projeto do Governo de Minas Gerais, serão duplicadas vias de acesso, construção de sete viadutos, alargamento nas pistas, além de ganhar fluidez no tráfego, a construção vai movimentar o comércio. Mas, desde que as obras começaram, não é bem isso que o terceiro setor da economia está vivendo.

Há seis anos funcionando no mesmo endereço, com 11 funcionários e uma clientela fiel, a loja de serviços de desempeno de rodas localizada no início da avenida, já contabilizou mais de 70% de queda no movimento. De acordo com o gerente da loja, Antônio Pereira da Cunha, os clientes estão evitando passar pela Avenida Antônio Carlos por causa do trânsito congestionado. “Muitos ligam no meio do caminho para avisar que desistiram de vir até a loja porque vai perder muito tempo para chegar”, explica.

Cunha entende que a obra vai melhorar muitos aspectos para a região, mas os prejuízos causados em seu negócio não serão ressarcidos. Ele ficou sabendo que dentro de alguns dias, a empresa executora da obra vai começar a mexer na porta da loja. O que não aconteceu foi uma notificação ou aviso formal do governo. “Estamos sem saber o que fazer, possivelmente vai chegar um momento que vamos ter que fechar as portas e as contas vão continuar”, alerta Cunha.

A previsão para a conclusão das obras é de três meses, mas quem vive diariamente na região e depende do bom movimento para trabalhar e lucrar acha que esse tempo é uma eternidade. E para os consumidores, a busca por alternativas pode ser um novo caminho.


Leandro André da Silva tem uma academia na região oeste da capital e precisa constantemente ir a avenida levar alguns aparelhos de sua empresa para fazer manutenção em uma loja especializada. Agora, com as obras e o tráfego congestionado, ele precisa passar pelo local. “Tenho tentado ao máximo evitar passar pela Antônio Carlos, pois perco muito tempo no trânsito. Mas, quando não tem mais jeito, busco horários que não sejam de pico”, explica.


Indenização
Para que a obra desse prosseguimento e fosse realizada com sucesso, foi preciso desapropriar muitos imóveis que estavam à margem da Antônio Carlos. Na terceira etapa do projeto de duplicação da via, estava previsto R$ 111 milhões para indenização dos proprietários dos imóveis. De acordo com a Secretária de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), 240 imóveis deveriam ser demolidos.

Muitos comércios precisaram se reestruturar em outro local para continuarem a viver. Mas em outros casos, os donos ainda não sabem o que vão fazer com o dinheiro, como é o caso de Nicola Costa Junior. Há mais de quarenta anos com um imóvel localizado ao lado do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), no início da Avenida Antônio Carlos, recebeu um contato da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (SUDECAP) para avaliação do espaço e finalizaram a negociação, mas ele ainda não sabe em que vai investir e em qual região.

“A indenização foi dentro do padrão e não tive problema algum porque, na verdade, eu só locava o lugar, mas com certeza quem tinha comércio foi afetado”, salienta Junior. Apesar de ter que ceder a loja que tinha muitos anos, ele acredita que os resultados das obras vão favorecer a região.

Um comentário:

  1. -Usem um Manual para normatizar o texto;
    -Concordância: suas histórias de vida construídas (-1);
    -Semântica: trás (-1);
    -Vírgula entre sujeirto e verbo: estes valores não se sobrepõem (-1).

    Boa matéria. Sobretudo por abordar aspectos ainda não apontados.

    Nota: 22/25.

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