segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Uma obra que gera renda e transtornos

Há cerca de cinco anos moradores da Avenida Antônio Carlos vêem na obra transtornos. Já os moradores de rua da região encontraram uma fonte a mais de renda


Por Fernanda Oliveira, Geanine Nogueira e Rafael Moraes



Ferros, cimento, areia e madeira, são alguns dos principais itens de uma obra. Estes materiais estão espalhados pelas ruas e, muitas vezes, são encontrados por pessoas que saibam fazer bom uso deles. Como é o caso dos moradores de rua que habitam a Avenida Antônio Carlos. Eles são muitos, às vezes chega até a ser difícil contar quantos estão reunidos em um mesmo local. Mas uma coisa é fácil de identificar, o que eles procuram.

No momento o que vem atraindo a atenção dos moradores de rua, da Avenida Antônio Carlos, são ferros, que na maioria das vezes são arrancados de antigas instalações ou largados por operários na obra. Eles vendem esse material para conseguir dinheiro para comprar alimentos ou sustentar algum vício. Carlos Rodrigues do Nascimento bebia muito e há cerca de dez anos, foi abandonado por sua esposa e filhos por causa das constantes brigas. “Quando ela me abandonou eu fiquei doido comecei a beber mais e acabei perdendo casa e emprego. Hoje não tenho documento nenhum e ainda vivo da caridade dos outros”, afirma.

Desde que começaram as obras na Avenida Antônio Carlos, Carlos Rodrigues viu na recolha de ferros uma fonte de renda. “Eu vou andando pela avenida até encontrar alguma coisa que dê para vender. Com o dinheiro que eu consigo compro comida”, diz. Os objetos encontrados podem ser vendidos para locais que compram sucatas, o que ajuda a promover a caça pelos metais. Nestes locais um pedaço de ferro pode custar até R$1. O valor a ser pago depende do peso.

Os catadores de materiais são conhecidos pelos operários da obra como “Pobrinhos”. “Os Pobrinhos passam por aqui todos os dias, eles saem pegando tudo que encontram, mas na maioria das vezes o que eles procuram é ferro para vender”, afirma José Carlos da Silva, pedreiro da obra.

A opinião dos operários a respeito dos “Pobrinhos” é bastante divergente. Alguns acham que eles fazem isso, porque não têm outra opção de vida e usam o dinheiro para comprar comida. Mas há aqueles que digam que o dinheiro conseguido com a coleta é usado na compra de drogas. “Eu não saio seguindo eles pra saber o que fazem com o dinheiro. Mas duvido que eles comprem comida”, afirma Márcio Melo, operário. Já José Carlos da Silva, tem uma visão diferente, “olha não acredito que seja assim como o Márcio fala, claro que tem aqueles que usam o dinheiro para sustentar um vício, mas acredito que a maioria usam esse dinheiro para sobreviver. O mundo está muito difícil. Por isso, acredito na honestidade deles”.

Os operários nunca receberam orientações ou foram impedidos de dar sobras de materiais para os catadores. Mas todos têm medo de represárias. “Ninguém nunca falou que não podia, mas é melhor evitar”, diz José Carlos da Silva.

Os escombros como moradia

Em alguns pontos da avenida, restam escombros das demolições feitas pelas concessionárias contratadas. Estes locais eram antigas lojas ou imóveis que foram desocupados para o andamento da obra. Por enquanto estão desabitados e acabam transformando-se em residência improvisada para moradores de rua que, diariamente, freqüentam estes locais.

Os operários que trabalham na obra contam que o dia todo, homens e mulheres invadem esses prédios de onde só saem, na maioria, durante o dia, em busca de dinheiro e comida. Eles andam em grupos e sempre procuram por ferragens e alumínios. Quando conseguem o que querem voltam para os escombros para passarem a noite.

A maioria dos prédios desabitados que estão localizados dentro do grande canteiro de obras da Avenida Antônio Carlos, são usados pelos moradores para passarem a noite. Segundo o operário José Carlos da Silva têm seguranças espalhados por toda obra, mas eles não conseguem controlar os moradores de rua. “Os seguranças ficam na obra durante a noite, alguns têm até medo dos “Pobrinhos”, por isso, não impedem que eles fiquem nos escombros”.

Prédios desativados servem de moradias

O outro lado

Os moradores das proximidades da obra não estão satisfeitos com a presença dos moradores de rua nos escombros. Segundo eles, por andar em grupos, a presença dos mendigos nos escombros intimida e, muitas vezes, chega a ser desumano. É o que afirma o motorista Gilberto Moreira da Silva, “às vezes, chega a ter dez pessoas naquele local. Ficam bebendo e fumando o dia inteiro e voltam para dormir. Recentemente, alguns políticos e demais autoridades foram visitar esses locais e ficaram chocados com a situação dessas pessoas, um ambiente sujo e fedorento, quem não ficaria? Eles fazem as necessidades em qualquer canto, esse não é lugar para nenhum ser humano”, conta.

Os pedintes também incomodam os moradores. Para P.M.S., moradora que pediu para não ser identificada, os pedintes vão à sua residência pelo menos três vezes ao dia. “É complicado. O entra e sai destes locais é constante. Chegam aqui e pedem dinheiro e comida. Acabo cedendo, até mesmo para me ver livre deles”, afirma. Já Maria Cristina Pereira, que trabalha em uma padaria perto da construção, torce pelo fim das obras. “De repente, assim eles vão embora. Eles se sentem no direito de ganhar tudo. Fui ameaçada recentemente por um deles, porque não quis dar dinheiro a ele, o individuo chegou quase a me bater. Se não fosse meu irmão intervir, algo de ruim tinha acontecido”, relatou.

Mas por que morar na rua?

Para muitos moradores de rua, o aspecto sobrevivência é o principal fator por uma série de perdas. Muitas vezes não por culpa própria, se encontraram privados de uma das maiores necessidades da pessoa humana: uma casa, um lar, com tudo aquilo que isso representa, isto é, aconchego, um mínimo de conforto, privacidade, calor humano, família.

Mas não é apenas nos escombros da obra da Avenida Antônio Carlos que os moradores de rua da instituição dormem. Alguns passam a noite em albergues, que são casas onde os moradores de rua vão para passar a noite. Algumas vezes o que desestimula os moradores a procurarem estes locais são as regras. Muitos deles só recebem os moradores até determinado horário, bêbados também não podem entrar.

“Tem albergue em que as pessoas podem entrar no máximo até às oito horas. Quem estiver trabalhando pode entrar um pouquinho mais tarde, mas de manhã todos têm que sair às cinco horas, ou às seis, conforme o abrigo. E tem pessoas não se encaixam e, por isso, moram e dormem na rua mesmo. Quem fizer uso de bebidas alcoólicas não é aceito”, afirma João Matias Santos, morador de rua.

Além dos albergues, os moradores de rua vão para as quebradas, “abrigos” feitos de madeira ou papelão que os próprios moradores fazem para proteger do frio e da chuva. Ainda segundo João Matias Santos, outra opção são os abrigos da prefeitura. “Estes locais também são bons, mas ali dá pra ficar por um tempo de 3 a 6 meses, podendo ser ampliado, mas não dura muito tempo. Então nesse tempo que a gente fica a toa eu curto um cigarro, mas comum, tem uns que gostam de maconha, crack eu gosto de cigarro, palha e cachaça, que é bom para espantar o frio”.

Para quem mora na rua é muito difícil arrumar um emprego. Além da falta de documentos e a falta de um endereço fixo, o preconceito é muito grande.“O morador de rua tem que aprender a se virar. Achar um trabalho é difícil. Se você der o endereço do abrigo, será discriminado, não querem saber de pessoas de abrigo. Para quem dá emprego este local é freqüentado por bandidos, drogados e bêbados. E se você não tomar um banho, não vestir uma roupa legal, fica difícil de até participar de uma entrevista , vê lá arrumar”, conclui João Matias.


Obras na Avenida Antônio Carlos

Demolições de imóveis, desvios de trânsito, mudanças de pontos de ônibus, transtornos para os pedestres e muita poeira. Estas são algumas conturbações que a grande obra de duplicação da Avenida Presidente Antônio Carlos, iniciada em 2004, vem causando nos milhares de cidadãos que passam diariamente entre máquinas e operários.

Com o projeto trazer mais mobilidade para a via e também ter mais condições estruturais para sediar os jogos da copa do mundo, em 2014, a duplicação deverá custar, ao todo, cerca de R$ 360 milhões. Somente na terceira etapa (última fase do projeto) serão investidos aproximadamente R$ 250 milhões, sendo R$ 160 milhões do Governo de Minas e R$ 60 milhões da prefeitura.

A Avenida Antônio Carlos é considerada uma das principais avenidas de Belo Horizonte, que liga o centro da capital a região da Pampulha. Estão sendo ampliados 3,9 quilômetros de pista, que começa no bairro São Francisco e vai até o complexo da Lagoinha, onde se localiza o Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH).

No início deste ano o Governo do Estado assumiu a terceira e última fase da obra de alargamento da avenida, trecho que fica compreendido entre a rua Operários, no bairro Cachoeirinha, e o complexo da Lagoinha, no centro de Belo Horizonte. A previsão é que a obra esteja concluída até 2010.

Para falar mais precisamente em números, dados da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (SETOP), foram desapropriados cerca 270 imóveis. O cenário que se vê diariamente são os pedestres passando entre os entulhos. Estimativas também apontam que aproximadamente 85 mil veículos trafegam diariamente pela via. Em determinados horários, em específico nos horários de pico, é impossível passar de carro pela Avenida Antônio Carlos e não encontrar pelo menos um congestionamento. São carros e ônibus dividido espaço com pedestres, máquinas e centenas de operários.

Há também quem tenha se beneficiado com as obras. Dados apontam que foram gerados 4.700 empregos diretos e indiretos. Todos estão trabalhando para que até os três primeiros meses de 2010, as pistas, que mediam anteriormente 25 metros, cheguem aos 52 metros e que cheguem a quatro o número de faixas de tráfego em cada sentido, sendo duas faixas destinadas ao busway – tráfego somente para ônibus.

Já foram entregues dois trechos da obra. Na primeira etapa concluída foi a duplicação que fica entre a Rua Viana do Castelo, no bairro São Francisco e a rua Aporé, no bairro Aparecida. Em um trecho de 1.340 metros de avenida, foi construída uma ligação da Antônio Carlos com o Anel Rodoviário. O trecho agora possui quatro faixas de rolamento em cada lado e duas pistas centrais exclusivas para o tráfego de ônibus coletivo.

Já a segunda etapa da obra compreendeu um trecho de aproximadamente 700 metros. Se localizando entre as ruas Aporé e Operário, no bairro Aparecida. Onde existem também pistas exclusivas para ônibus, rampas e escadas que facilitam o acesso para os moradores do local.

Um comentário:

  1. -Por favor, façam uma outra tentativa no sentido de resolver os problemas de configuração do blog;
    -Atenção para as mudanças na ortografia;
    -Vírgula separando sujeito do verbo: Ferros, cimento, areia e madeira são alguns (-1);
    -Não se esqueçam de colocar vírgula(s) para separar, sobretudo, adjuntos;
    -Vírgula: eu fiquei doido, comecei a beber (-1);
    -Inadequação do verbo: Mas há aqueles que dizem (-1);
    -Vírgula: Já José Carlos da Silva tem;
    -Pontuação: visão diferente. “Olha, não acredito que seja assim como o Márcio fala. Claro que tem aqueles que usam o dinheiro para sustentar...;
    -Ortografia: represália (-1);
    -Acabou o trema;
    -Cuidado com a repetição;
    -Faltando palavra: E tem pessoas que não se encaixam;
    -Ortografia: à toa;
    -O que é isso: "vê lá arrumar"?;
    -Concordância verbal: vêm causando (-1);
    -Aconselho, mais uma vez, a utilização de um manual para padronizar o texto.

    Nota: 20/25.

    ResponderExcluir