terça-feira, 3 de novembro de 2009

Obras da Antônio Carlos geram empregos

Apesar de todos os transtorno causados por conta da duplicação da Avenida, o projeto também gera emprego e renda para os trabalhadores

Por Marina Albano, Milene Ferreira



Imagem da Avenida Antônio Carlos


Uma das Avenidas mais importantes do Vetor norte de Belo Horizonte, a Antônio Carlos está agora em curso à terceira etapa da duplicação, entre o bairro Cachoeirinha e o Complexo da Lagoinha. A obra está gerando aproximadamente 4.700 empregos, segundo cálculos do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot). Em Minas, a construção pesada é responsável pela geração de 78 mil empregos, deste total, 17 mil vagas são geradas por obras do Governo.
Conforme a entidade, a previsão é de um emprego para cada R$ 30 mil investidos diretamente em infraestrutura. Dados da Câmara Brasileira do Comércio da Construção (CBIC) demonstram a potência do setor da construção na geração de empregos na economia: para cada 100 postos de trabalho gerados diretamente no setor, em média, outros 285 são criados indiretamente na economia. Estima-se que para cada R$ 1 milhão a mais na demanda final da construção, sejam gerados 177 novos postos de trabalho na economia, sendo 34 diretos e 143 indiretos, segundo a entidade.
Para o diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER/MG), José Elcio Santos o setor de construção civil vem gerando vários empregos, em um potencial direto e indireto, além da geração de impostos. “Espera-se arrecadar R$ 3 milhões de ISS (Imposto Sobre Serviços) para a Prefeitura de Belo Horizonte durante as obras de duplicação.” Ainda segundo o diretor, o investimento em obras públicas é extremamente importante para melhorar as condições de vida da população tanto quanto para a geração de empregos.
O setor está em alta, gerando um efeito multiplicador em geração de emprego em renda. De acordo com o Banco Mundial apontam que para cada 1% de crescimento na infraestrutura, corresponde em média um crescimento de 1% do PIB. E para cada 1% de crescimento do PIB, corresponde um crescimento de cerca de 0,5% do emprego. Portanto, uma expansão de 1% na infraestrutura faz o emprego crescer 0,5%.
Segundo o Balanço de Intermediação de Mão de Obra do Sistema Nacional de Empregos (Sine) de Minas Gerais, o setor de Construção Civil ficou entre os três que mais contrataram pelos postos do Sine no mês de setembro, com 22% das oportunidades.
Mesmo com a crise financeira internacional, os níveis de emprego na construção civil na RMBH foram mantidos e tiveram uma pequena alta, em relação a abril de 2008. Naquele mês, eram 164 mil operários trabalhando nas obras da RMBH. Em abril passado eram 166 mil, trabalhando em todos os segmentos da construção.
Em abril, de acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), feita pela Fundação João Pinheiro (FJP) e Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), das 29 mil pessoas que conseguiram uma vaga no mercado de trabalho, duas mil foram absorvidas pelo setor da construção.
A avenida foi construída pelo então prefeito Juscelino Kubischek para dar acesso à região turística da Pampulha. Com 8,5 quilômetros de extensão, hoje passam pela avenida80 mil veículos por dia, a via passará de três para quatro faixas nos dois sentidos, além de uma terceira pista com duas faixas exclusivas para ônibus. Ainda serão construídos sete viadutos para facilitar o acesso aos bairros cortados pela via.
Na Avenida está localizado o Campus da Universidade Federal de Minas Gerais também aberta durante o governo de Juscelino Kubitschek. Para se ter acesso a região turistíca da Pampulha, a Avenida Presidente Antônio Carlos começa na Região Central de Belo Horizonte, no bairro da Lagoinha e se estende por cerca de oito mil metros na direção norte até a Barragem da Pampulha. Atravessando bairros como Cachoeirinha, Aparecida, Bom Jesus e São Francisco. A conclusão do projeto é considerada de importância estratégica para a cidade, sendo que a Antônio Carlos possui um acesso direto ao Estádio do Mineirão, principal complexo esportivo de Belo Horizonte e que será uma das sedes dos jogos da Copa do Mundo de 2014.
O Governo informou que a obra vai beneficiar cerca de 3 milhões de pessoas, atraindo investimentos, gerando empregos, movimentando o comércio e ainda vai agilizar o deslocamento de trabalhadores. Com a duplicação da Avenida espera-se a valorização de imóveis residenciais e comerciais, também existe a possibilidade de zoneamento da área. Todo esse desenvolvimento vai permitir a instalação de novos empreendimentos gerando mais empregos diretos e indiretos mesmo depois da conclusão das obras.



Operários trabalham na duplicação da Avenida Antônio Carlos



Os trabalhadores da Antônio Carlos


A vida de quem trabalha em construção civil não é fácil, principalmente em uma grande construção como na Antônio Carlos. As obras estão funcionando em ritmo acelerado, os operários trabalham inclusive aos sábados. Com previsão de conclusão para os primeiros meses de 2010, a duplicação movimenta os operários que trabalham para cumprir o cronograma. As obras na Avenida causam transtornos para quem mora próxima a Antônio Carlos e para quem precisa passar por ela todos os dias. O transito fica lento, caótico. E ainda é necessário conviver com a poeira, que com o calor fica ainda mais insuportável.
Os operários sabem da importância da duplicação da Antônio Carlos para tentar resolver o problema do transito cada vez mais complicado da capital. Eles chegam para o trabalho cedo e às vezes ficam até as dez da noite. É o que conta Alexandre da Silva, 28 anos. “Não temos dia para trabalhar, pode ser sábado, domingo e quase sempre ficamos até tarde.” Alexandre considera necessária essa obra para Belo Horizonte como forma de melhorar o tráfego. “Sei que o transito vai melhorar, por isso temos que trabalhar muito para que tudo seja entregue dentro do prazo.”
Já o operário Lucas Novais dos Santos, 22 anos, conta que trabalhava em outro serviço antes de ser contratado como operário na Antônio Carlos. Ele relata que foi empregado por uma empresa terceirizada que presta serviço para a prefeitura e considera que após a obra a vida de quem precisa passar pela Avenida vai melhorar muito. “Acho que o tempo gasto para chegar ao centro vai ser bem menor e muito mais tranqüilo.”
A duplicação da Avenida Antônio Carlos é uma obra de grande proporção e que leva um tempo considerado, mas que depois de concluída trará benefícios para os moradores da cidade. É o que considera os operários e o que espera todos os que passam diariamente por todo o trajeto da Avenida.
Fotos: Milene Ferreira

Poeira, trânsito e modernidade.

Avenida Antonio Carlos em obras.



Para quem passa todos os dias pela Avenida Antonio Carlos, no Bairro Lagoinha, sente uma grande mudança na paisagem do espaço. O Bairro está passando por obras para a duplicação da Avenida. Casas e estabelecimentos de comércio foram derrubados para que a nova Avenida seja construída.
Com o intuito de melhorias no trânsito da Capital Mineira, a obra de duplicação da Antônio Carlos vai transformar a avenida em uma nova Linha Verde, via de trânsito rápido e facilitará a vida da população que faz uso do transporte coletivo. Atualmente, a Antônio Carlos possui no trecho em obras, apenas uma pista por sentido com três faixas de rolamento cada uma. Com a ampliação, passará ter quatro faixas por pista, além de uma terceira pista, com duas faixas exclusivas para ônibus.
Ao longo do trecho em obras, serão construídos sete novos viadutos para facilitar especialmente o acesso aos bairros adjacentes. Esses viadutos terão no mínimo duas faixas por sentido, contribuindo para evitar congestionamentos. Logo após a conclusão da duplicação da Antônio Carlos em 2010, serão instaladas nas pistas centrais canaletas exclusivas para ônibus rápidos sobre trilhos, com estações de pré-embarque, ligando o complexo da Lagoinha à barragem da Pampulha, onde está prevista, também, a construção de uma estação BHBus.
Mas para utilizar os benefícios futuros, motoristas e passageiros passam raiva no trânsito devido as obras. Em horários de pico o trânsito fica parado no trecho. Hora de stress para muitas pessoas que por ali passam. O motorista de ônibus da linha 4106, Edmar Arantes diz estar apreensivo para a conclusão da obra. “Tenho que fazer este trajeto todos os dias, quando o horário é entre 17 e 20 horas já saio estressado para o trabalho por que sei que o dia vai ser difícil.” afirma Edmar já com a fisionomia cansada.
Se para os motoristas o trajeto que passa pela obra é desgastante. Para o passageiro que muitas vezes trabalhou o dia inteiro e pega o transporte para ir pra casa ou faculdades o percurso é um momento até de descanso onde vários tiram os minutos para cochilar, descansar a cabeça. Isso quando o calor e o trânsito não atrapalham. É o caso da estudante de Matemática Ana Luiza. “Saio de casa todos os dias às 8 horas da manhã, trabalho o dia todo e de noite vou para faculdade. Procuro pegar o ônibus mais cedo para não pegar trânsito nessa parte das obras, mas quando não tem jeito acabo cochilando no caminho até lá, isso é claro quando dou a sorte de pegar um lugar para sentar.” comenta a jovem estudante.
Não serão só os moradores do bairro os beneficiados com a obra. A duplicação da Antonio Carlos vai aumentar a fluidez no tráfego, reduzindo os custos operacionais do sistema de transporte. Pedestres e população vizinha terão mais segurança. O acesso do trabalhador será mais rápido. Com a construção de passarelas, trincheiras, viadutos, esta será uma via mais segura para pedestres e motoristas. Com a requalificação das áreas urbanas, a poluição irá diminuir, a urbanística promoverá a melhoria das condições ambientais e paisagísticas, além de facilitar o acesso ao Mineirão, estádio que será local de jogos da Copa 2014.


Gerando empregos. Operários trabalham até de noite para terminar a obra.

São aproximadamente 4.700 empregos diretos e indiretos gerados pela duplicação da Antonio Carlos no trecho da Lagoinha.
Alegria de muitos trabalhadores que estavam desempregados e agora trabalham pesado para o termino das obras. O trabalho esta sendo realizado em equipe, todos os dias da semana em todos os horários para acabar o quanto antes. Fatores da natureza atrapalham alguns dias de trabalho como as chuvas que estão sendo periódicas neste mês. Mario Augusto, operário ficou muito satisfeito com a realização da obra. “Estava sem emprego quando fui chamado para trabalhar. O dinheiro que estou ganhando está ajudando muito na renda da família. O serviço feito em equipe faz com que o dia passe mais rápido, todos trabalham com disposição, mas as chuvas estão atrapalhando um pouco o andamento das obras.” relata o operário.
O trabalho dos operários está sendo intenso e rápido. Em todos os turnos que passamos pela Avenida Antonio Carlos,manha, tarde,noite e até mesmo de madrugada avistamos trabalhadores e máquinas.



Os Benefícios Futuros.

Mesmo passando por amolações como engarrafamentos, poeira, demolições, stress, e construções nos trechos em obras, todos sabem do beneficio que terá após a obra concluída.
Para Luiz, motorista de van, a obra vai facilitar a vida de todos, passageiros e motoristas. “Tempo é uma palavra que está extinta do vocabulário de muita gente. Trabalho com transporte a 12 anos e preciso de ganhar tempo em todo momento. As pessoas estão cada vez mais com presa e eu tenho que atende-las. Com a duplicação da Antonio Carlos vou ganhar tempo e isso para mim e para os meus passageiros é algo precioso” afirma.
O Projeto paisagístico elaborado para a segunda etapa de duplicação da avenida Antônio Carlos, prevê o plantio de 1,5 mil mudas de árvores ao longo da avenida Antônio Carlos, no trecho entre a rua Operários, no bairro Cachoeirinha, até o Complexo da Lagoinha. Essas árvores substituirão as 140 que estão sendo retiradas devido às obras de ampliação da via, que está tendo a largura ampliada de 25 metros para 52 metros, novas árvores nascerão em outros lugares. Para cada árvore retirada, serão plantadas dez outras.
Com benefícios e malefícios a obra da duplicação da Antonio Carlos está adiantada e servirá para melhor atender a população de Belo Horizonte e visitantes já que na Copa do Mundo de 2014 a capital mineira será palco de importantes jogos.





Paula Villela

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Mudança de Rotina

População altera sua rotina devido às obras e espera ansiosamente
a conclusão prevista para março de 2010.

P
or Júlia Campos, Kamilla Kris e Renato Carvalho


Início de semana, 18h30, horário de rush, trânsito quase parado na Avenida Antônio Carlos, na Capital mineira. Isso não seria novidade para os milhares de motoristas que passam diariamente pela principal artéria de trânsito que liga o centro de Belo Horizonte à região Norte da cidade. A diferença é que, com as obras de alargamento da via, iniciadas em 2004, esse caos – como alguns moradores têm se referido à situação – piorou.

Morador do bairro Lagoinha há cerca de três anos, o turismólogo carioca José Ramiro Chagas conta que não é só o fluxo de automóveis na porta de sua casa que mudou. “Eu estava vendo o dia que ia chegar do serviço e iria encontrar, pregado na porta do meu apartamento, um bilhete dizendo que ‘a próxima vítima’ seria o meu prédio”, conta Ramiro, ironizando uma possível desapropriação.

Foto: Kamilla Kris
Ramiro Chagas, um dos moradores da Lagoinha

Mas não é apenas quem vive na região que sofre com o transtorno causado pelas obras. Nos arredores do Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH), o que se ouve é muita reclamação. Alunos da instituição, que moram em municípios vizinhos, afirmam que a dificuldade de locomoção na via tem feito com que os atrasos na chegada à aula sejam constantes.

Estudante do 6º período do curso de Relações Públicas, Gabriel Ferreira, morador de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, conta que raramente consegue chegar à faculdade no início da aula, às 19h. “Tem que ter bom humor, isso já se tornou rotina pra gente (conta ele se referindo aos demais colegas de van), uma nova rotina, e a gente até brinca com isso dizendo que quando conseguimos chegar cedo, chove! E como com chuva o trânsito sempre atrasa, aí que não chegamos cedo mesmo...”.

Gabriel explica também que os engarrafamentos têm feito com que o motorista de sua van, como outros tantos que enfrentam a mesma jornada, tentem caminhos alternativos para chegar ao Uni-BH. “Quando está tudo realmente parado, o que acontece com freqüência, nós experimentamos outras rotas, mas como outros motoristas tentam a mesma ‘façanha’, acaba não tendo jeito de fugir do engarrafamento”, comenta o estudante.

Comerciantes da região também sofrem com os transtornos causados pela obra. Regina Figueiredo, ex-moradora da Lagoinha e vendedora de pastéis nos arredores do Uni-BH, conta que teve dificuldades para continuar trabalhando no bairro. “Ficou muito complicado vir trabalhar aqui depois que desapropriaram minha casa. Tive que mudar, e isso atrasou um pouco o meu trabalho”, esclareceu.

Além do empecilho da distância, Regina conta que apesar do movimento da faculdade ser sempre o mesmo, o tempo livre dos alunos diminuiu. “Antes das obras chegarem à Lagoinha muitos alunos chegavam mais cedo e lanchavam antes de entrar para a aula. Agora muitos chegam atrasados e só têm o horário do intervalo para lanchar. No intervalo o movimento é muito grande ali fora, e muitos desistem de comer”, desabafa.

A advogada Andrea Costa, que mora no bairro Lagoinha, em uma das ruas perpendiculares à Avenida, disse que sua rotina mudou desde que as obras começaram. Como o bairro tem fácil acesso ao centro, muitas pessoas vão à pé para casa ou para o trabalho. “Tomo cuidado ao chegar em casa. Eu mesma venho a pé do centro, principalmente por ser mais saudável. Com as obras tenho tomado mais cuidado, pois a passagem dos pedestres que antes era mais próxima da Avenida agora foi transferida para perto da minha casa”, relata apontando que diversos assaltos têm acontecido.

De acordo com o diretor geral do DER/MG, José Elcio Santos Monteze, o trecho em execução é o de maior complexidade de toda a obra, pelo fato da região da Lagoinha necessitar de um grande número de intervenções. No trecho da rua Formiga, por exemplo, foram construídas as fundações dos viadutos, juntamente com a instalação de 110 estacas e blocos que compõem a infraestrutura de sustentação dos viadutos. A previsão é de que as obras no local serão concluídas até março de 2010.

Prós e contras

Foto: Júlia Campos
Desapropriação de um dos prédios da região

A estudante do 6º período de Publicidade do Uni-BH, Roberta von Zastrow, comenta sobre a iluminação precária da avenida e da falta de segurança aos pedestres. “À noite fica muito perigoso pegar ônibus. O ponto fica completamente escuro, a gente não consegue ver quase nada. Sem contar a freqüente mudança dos pontos de ônibus. A gente fica sem saber onde pegar o transporte”, reclama.

O DER informou que a instalação da iluminação provisória na Avenida Antônio Carlos durante as obras já está em execução. Mas os postes só podem ser instalados nos trechos onde as demolições terminaram e que irão verificar a deficiência de iluminação próximo à faculdade, na Lagoinha.

Andréa Fernandes, estudante do 4º período de jornalismo do Centro Universitário conta dos problemas enfrentados para chegar na faculdade: “Há lugares onde não há passeios, e fica muito complicado para a gente atravessar ou até mesmo andar pela Antônio Carlos. Além disso, só uma faixa plástica separa os pedestres do carro”, desabafa.

Roger Melo, estudante do 5º período de Ciência da Computação da UFMG passa pela Avenida todos os dias de ônibus para ir para o Campus e retornar para casa. De acordo com o universitário, antigamente, quando as obras ainda não haviam sido iniciadas, era praticamente impossível passar por lá sem enfrentar congestionamento.

Ultimamente ele têm percebido uma rapidez no desenvolvimento da obra, o que está ajudando na fluidez do tráfego. “Na parte da Avenida em que as pistas foram liberadas o trânsito está tranqüilo. Mas quando chegamos no viaduto, próximo à Afonso Pena, o trânsito dá uma “parada”. Creio que quando terminar tudo, será a melhor via de acesso para as regiões de Belo Horizonte”, conclui Roger.

O motorista de van escolar, Wagner Leandro, está feliz com as obras. “As obras da Antônio Carlos estão muito avançadas. Quando a obra ficar pronta, o trânsito irá fluir melhor. O que preocupa são os motoristas irresponsáveis que aproveitarão o tráfego livre e a pista nova para acelerar mais. Acredito que muitos acidentes acontecerão”, aponta.

Wagner citou as obras do Boulevard Arrudas, em que a pista foi também alargada, melhorando o fluxo no trânsito e muitos motoristas aproveitaram para correr mais. O motorista ainda lembrou dos diversos acidentes na Antônio Carlos, devido a falta de passarelas e sinalização adequada. “A Antônio Carlos irá progredir bastante depois da conclusão das obras”, finaliza.

Obras na Antônio Carlos

Foto: Divulgação
Projeto das obras próximo à Rua Rio Novo

A Avenida Antônio Carlos, uma das mais movimentadas da cidade, recebe em média 85 mil veículos leves e pesados todos os dias, de acordo com a Secretaria de Estado de Transportes de obras públicas. Sua duplicação veio com o propósito de beneficiar mais de 3 milhões de pessoas, entre pedestres e população vizinha, que além da melhora na fluidez no tráfego, terão segurança, diminuição da poluição e geração de empregos, tanto com as obras quanto com a valorização comercial da região.

A segunda fase de alargamento da Avenida (de 25 para 52 metros), entre a Rua Operários e o Complexo da Lagoinha, teve início em 28 de janeiro de 2009 e recebeu R$ 250 milhões para ser desenvolvida. Do dinheiro investido, R$ 139 milhões são direcionados às obras e os outros R$ 111 milhões às desapropriações. Além do alargamento da pista e ruas adjacentes, serão construídos sete viadutos para interligar os bairros da região.

Hoje a Antônio Carlos possui no trecho em obras, apenas uma pista por sentido com três faixas de rolamento cada uma. Com a ampliação, passará a ter quatro faixas por pista, além de uma terceira pista, com duas faixas exclusivas para o fluxo de ônibus. Os viadutos criados terão, no mínimo, duas faixas por sentido, contribuindo para evitar congestionamentos.

Além das obras foi desenvolvido um projeto paisagístico que prevê o plantio de 1,5 mil mudas de árvores ao longo da avenida, no trecho entre a rua Operários, no bairro Cachoeirinha, até o Complexo da Lagoinha, para substituir as 140 árvores que foram retiradas. Está previsto o plantio de árvores ao longo das calçadas, nos canteiros centrais da bus-way, nas calçadas dos viadutos e nas áreas remanescentes da obra.

A conclusão do alargamento da Antônio Carlos será um ponto estratégico para alavancar o desenvolvimento do turismo de negócios da capital, lembrando que a Avenida é um dos acessos diretos ao Estádio do Mineirão (principal arena esportiva de Belo Horizonte), que será sede dos jogos da Copa do Mundo de 2014.

Entre transtornos e benefícios

Por Danilo de Castro, Igor Dias Pinto e Matheus Araújo

Novembro de 2009. O fim do ano está bem próximo. É época de natal. As pessoas ficam mais felizes e generosas. O “bom velhinho” chega para fazer a festa do varejo e todos trocam seu dinheiro por algo que será importante para o ano que vem. Pode ser um terno para um possível emprego novo, pode ser um carro para ajudar à temerosa mãe a dormir mais tranqüila enquanto espera seu filho chegar da balada ou pode ser uma reforma na casa para vendê-la por um preço maior. A população começa a planejar sua vida para o ano seguinte e, na política, não é diferente. A “reforma” promovida pelos governos já começou, pois o 2010 é ano de escolhas.

José Vanderson, 26, há quatro meses faz parte da mais nova “reforma” que deverá ser entregue pelo Governo de Minas Gerais. O servente de pedreiro (ou "auxiliar para serviços de engenharia", como dizem alguns) é mais um entre os milhares de operários que formam os braços que sustentam a obra de duplicação da avenida Antônio Carlos. Pele castigada pelo sol, cabelo ressecado e macacão azul rajado pela cor vermelha da terra, que também toma conta de toda a paisagem da região da Lagoinha. São horas de trabalho em um calor de quase 40 graus. São dias e mais dias se escondendo em meio aos tratores e caminhões para conseguir ficar de pé. Entretanto, José não perde as forças, pois carrega nas costas, além dos dizeres “uma obra do Governo do Estado de Minas Gerias e Prefeitura de Belo Horizonte”, a responsabilidade de pai de família. “São dois filhos pra criar. Trabalho todos os dias três horas extras pra poder ganhar um pouco mais”, diz o operário. Ele ainda afirma que só tem direito a uma folga por mês. É a força da “locomotiva” do Estado que não pode parar.

A obra, por ser de grande porte, mexe com a vida de várias pessoas. Maria Clara Alves, estudante do ensino médio, acredita que o trabalho feito na Avenida Antônio Carlos é necessário. “São muitos carros que passam aqui pela avenida e trânsito estava ficando insuportável”, afirma a estudante. Ela acredita que, com as mudanças que estão sendo executadas, a via não terá mais engarrafamentos e que é preciso ter paciência com este período de obras. Já os motoristas não estão muito satisfeitos com toda essa mudança. O comerciante Valter Rodrigues diz que passar pela Lagoinha de carro está muito complicado. “Cada dia é uma alteração no trânsito e a gente fica sem saber onde vai parar”, conclui.

O certo de tudo isso é que, até agora, muitas pessoas foram desalojadas e tiveram suas casas destruídas para a conclusão da obra. Porém, nada disso tem caráter ilegal. Em nossa Constituição Nacional reza que o bem comum está acima do bem particular. Portanto, é pensando em beneficiar milhares de pessoas que a obra em sido realizada a todo vapor. A pergunta a ser feita é para onde todo esse entulho das casas é transportado. Após entrar em contato com a Secretaria de Transportes e Obras Públicas do Estado para perguntar sobre o destino desse entulho, nossa reportagem só obteve a confirmação de que seria respondida. Até agora, não houve uma resposta oficial para o questionamento. O operário Luciano Araújo, contudo, disse que os destroços da Antônio Carlos vão para um bota-fora na Avenida Pedro II, mas não soube informar o local exato.

O fato é que a população anseia por uma via de acesso rápido para chegar ao centro da cidade. Em contra partida, o Governo de Minas assumiu o término da duplicação da Antônio Carlos visando uma via de acesso rápido para Brasília. Vale lembrar que 2010 é ano de eleições no Brasil. O Governo de Minas ajuda a população mineira e a população mineira ajuda o Governo de Minas. Com isso, essa “reforma” que o Governador está fazendo em BH pode lhe garantir uma casa nova em 2011.


Transtorno passageiro?


A segunda fase de ampliação da Avenida Antônio Carlos está causando transtornos aos usuários da via. O fluxo intenso de automóveis e pedestres colaboram com a piora do trânsito no local.

Pistas obstruídas além dos passeios degradados geram reclamações de todos os lados. Juliana Silva, estudante do Uni-BH diz que prefere ir a pé do que usar ônibus para chegar à faculdade por causa do trânsito intenso. Ela acredita ainda que as obras não farão muita diferença depois de finalizadas. “A quantidade de carros nas ruas aumenta a cada dia. Quando a obra for concluída, a avenida já não comportará mais o volume de automóveis e o trânsito vai continuar como estava antes das obras.”

Para Willian Andrade, que viaja com veículo próprio da sua casa, em Santa Luzia, ao trabalho, na Zona Sul da Capital, a solução seria um sistema férreo que atendesse com qualidade o maior número de pessoas. “Os trabalhos que estão sendo feitos vão ajudar, mas se o metrô fosse bom eu deixaria o carro em casa”. Ele trocou a Antônio Carlos pela Avenida Cristiano Machado por causa das obstruções promovidas pelas obras.

Conforme dados da Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte, BHTrans, a avenida tem cerca de 9 quilômetros e 80 mil carros circulam hoje na via que é a principal ligação entre o Centro da cidade e as regiões da Pampulha e Venda Nova. Porém, estatísticas da própria empresa mostram que, com a criação do novo centro administrativo do Estado de Minas Gerais, na região norte de BH, o volume pode aumentar em cerca de 30 mil carros por dia.

As demolições permitirão a expansão de três para quatro pistas nos dois sentidos além das quatro faixas exclusivas de ônibus. O projeto conta também com a criação de sete viadutos que servirão como alças de acesso para a avenida e dela para os bairros e avenidas coletoras da região.

Mas, de nada servirá todo o dinheiro gasto com desapropriações e demolições, se os problemas de gargalos no curso da Avenida com o viaduto da Lagoinha, no sentido centro e com a Avenida Dom Pedro I na Barragem da Pampulha não forem solucionados com o mesmo empenho.

Outro agravante é a quantidade de semáforos espalhados por sua extensão que travam o desenvolvimento do tráfego. Uma solução seria um maior investimento na construção de passarelas que excluiria os semáforos exclusivos de pedestres, deixando apenas os já existentes nos entroncamentos de pista.


A obra em números


O Governo de Minas Gerais firmou parceria com a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e investiu R$ 250 milhões na última etapa da duplicação da avenida Antônio Carlos, delegando a administração das obras para o consórcio das empresas Andrade Gutierrez e Barbosa Mello. Dessa verba, R$ 139 milhões (ou 56,6%) são destinados à infraestrutura, e R$ 111 milhões (44,4%) em desapropriações – até o presente momento, 240 imóveis foram desalojados. Os dados são da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop).

Pelos cálculos do Sindicato da Indústria da Construção Pesada no Estado de Minas Gerais (Sicepot), a empreitada gera cerca de 4700 empregos diretos e indiretos, sendo 375 deles na região da Lagoinha. O Sicepot prevê a criação de um emprego para cada R$ 30 mil investidos diretamente em infraestrutura.

As pistas da avenida, que atualmente possuem 25 metros de largura, passarão a ter 52 metros. O projeto também contempla a implantação de 12 faixas de tráfego (em cada sentido, são quatro faixas para veículos em geral e outras duas reservadas para o transporte coletivo), melhorias na distribuição de energia elétrica ao redor da avenida e a plantação de 1500 árvores no entorno da via.

Serão erguidos sete viadutos, cada um com duas faixas por sentido. A intenção é absorver o crescente número de veículos em circulação na cidade, além de facilitar o acesso aos bairros adjacentes. A previsão para a conclusão das obras é para março de 2010, e todo este processo teria participação também no projeto para a Copa de 2014.

Se, por um lado, o trânsito na região vem sendo bastante prejudicado, e nisso as reclamações dos motoristas estão cobertas de razão, vale ressaltar que o dinheiro público está sendo bem utilizado e que milhares de empregos estão sendo gerados – o equivalente a uma pequena cidade. Os prédios abandonados da avenida foram demolidos e darão lugar a vias arborizadas – um trabalho paisagístico que tornará não só o trânsito, mas a própria visão do percurso mais agradável.

Como vemos, o transtorno gerado é inevitável, mas observa-se que a duplicação da avenida Antônio Carlos não apenas beneficiará o trânsito da região, mas também permitirá o uso potencial da via para ligar o Aeroporto de Confins ao Expominas. Este fator pode alavancar o turismo de negócios em Belo Horizonte, tendência que vai se firmando na capital pela sua localização estratégia em relação aos outros centros metropolitanos do país.

No meio do caminho, a Lagoinha

Por Daniela Macedo




"Não fui lá nesse dia. Não queria ver o fim melancólico e desnecessário da Praça.
Em vez de tombá-la como patrimônio público, o último local mais característico da vida noturna da cidade, preferiram destruí-la. E destruí-la à toa, sem a menor necessidade. O fato é que as tais autoridades municipais foram lá, muitos curiosos para ver o espetáculo de uma implosão; toda a impressa falada e escrita; as estações de televisão. Também nós, do Jornal do Shopping, mandamos repórter e fotógrafo registrar o fim da velha Praça.
E no meio da pequena multidão silenciosa, Lagoinha soltou o samba:

“Adeus, Lagoinha, adeus.
Estão levando o que resta de mim.
Dizem que é força do progresso
Um minuto eu peço
Para ver seu fim.”

Houve um minuto de silêncio após o último acorde da música. E, depois, todo mundo viu um prédio ser jogado no chão. "

(Wander Piroli em Lagoinha, da editora Conceito)

























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“Não dou mais entrevistas! Chega! Só nesta semana já foram sete entrevistas. Se-te”, enfatiza Samuel, um dos engenheiros responsáveis pela obra de duplicação da avenida Antônio Carlos. E, em tom de impaciência, conclui: “Copia da colega, é tudo a mesma coisa, não vou repetir!” Vira-se de costas e segue em direção oposta à aluna-jornalista ali presente. Samuel não compreende, mas é grande a importância do registro, da documentação, da palavra.

Mais do que um lugar por onde passa a avenida Antônio Carlos, a Lagoinha, um dos bairros mais antigos da cidade, tem sua existência reforçada por palavras que ajudam a contar sua história e parte da de Belo Horizonte. Em Adeus Lagoinha, samba do compositor Gervásio Horta, o bairro é homenageado em um momento de transformação; o mesmo retratado na crônica Lugar, do jornalista e escritor Wander Piroli, publicada no livro Lagoinha, uma de suas homenagens ao bairro em que nasceu e viveu durante muitos anos.

Lagoinha foi a última publicação de Piroli, em vida, e a primeira da coleção BH. A cidade de cada um. Impossibilitado de escrever, devido a um derrame cerebral, o autor reuniu parte de suas crônicas sobre a Lagoinha, publicadas nos jornais durante sua trajetória literária, e as transformou no primeiro volume de BH. A cidade de cada um. A coleção, projeto dos jornalistas José Eduardo Gonçalves e Sílvia Rubião, que objetiva registrar fragmentos da memória de Belo Horizonte, publicou, além de Lagoinha, os livros Mercado Central, Estádio Independência, Rua da Bahia, Parque Municipal, Fafich, Praça Sete, Livraria Amadeu, Sagrada Família, Pampulha, Lourdes, Cine Pathé, Carmo, Caiçara, Colégio Sacré Coeur de Marie, Carlos Prates e Morro do Papagaio; todos de autores diferentes.

Tanto a crônica de Wander Pirolli, quanto a música de Gervásio Horta retratam o fim da Praça Vaz de Mello, conhecida como antiga Praça da Lagoinha. Além da extinção da Praça, o surgimento do Complexo Viário da Lagoinha e a implantação do metrô na região compuseram parte das transformações do bairro nos últimos trinta anos; transformações que trouxeram progressos à região, mas que não evitaram o descaso à memória histórica e cultural do lugar.

Mais palavras sobre a Lagoinha estão em Lagoinha, meu amor, livro que reúne crônicas de Plínio Barreto, publicadas no jornal “Estado de Minas” entre os anos de 1981 e 1995. Um trabalho com intenção confessada e registrada na apresentação da obra: “-Porque a Lagoinha é para este velho escriba não apenas um bairro, mas um pedaço sagrado neste chão de Belo Horizonte. Nele nasci numa casinha singela de uma rua pacata, antes denominada Ferros, depois Coromandel, hoje Itatiaia. Onde fui batizado na Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Pequeno universo onde fiz correr uma infância descuidada, onde ganhou espaços uma adolescência cheia de planos, e onde hoje, dele ausente, vez por outra uma velhice, garimpeira sonhadora maneja com mãos trêmulas uma bateia de esperanças em busca de diamantíferos fragmentos de um passado inalcançável”.

Uma variedade de ilustrações ajuda a compor o cenário das crônicas de Plínio Barreto. São fotos que contam a história da Lagoinha, como a Feira Permanente de Amostras, onde hoje se localiza a rodoviária; a antiga Praça da Lagoinha fotografada em 1930; a avenida Antônio Carlos em construção; o início da rua Fagundes Varela, acesso à favela “Buraco Quente”, que ficava ao pé da Pedreira Prado Lopes, e levava esse nome devido às brigas constantes que havia ali; o conjunto habitacional IAPI, ainda em fase de acabamento; e diversas construções históricas da rua Itapecerica e da região.

De acordo com Françoise Gean, historiadora da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, cerca de trinta casas, dentre as que compõem o conjunto arquitetônico da Lagoinha, foram listadas como “monumentos de grande importância para a cidade”. Das trinta, apenas seis são tombadas pelo Patrimônio Histórico e Cultural, e não há, no momento, nenhum projeto para a revitalização dessas casas.

Indispensável ao fluxo do trânsito entre a região central de BH e a da Pampulha, a duplicação da Avenida Antônio Carlos é a atual transformação pela qual passa a Lagoinha. Segundo dados da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), a obra beneficiará 85 mil veículos por dia, com quatro faixas de tráfego em cada sentido da avenida e duas faixas exclusivas para ônibus, também em cada sentido. Sete viadutos serão construídos e a largura das pistas, que atualmente é de 25 metros, passará a ser de 52. Ainda de acordo com a Setop, a estimativa é que, nesta segunda fase da duplicação, 4.700 empregos diretos e indiretos sejam gerados.

Quanto à geração de empregos, os benefícios já são visíveis. O ajudante geral Welbert Rocha, de 19 anos, ao contrário de Samuel, alegra-se ao falar das obras. Contratado há seis meses, Welbert é um representante dos 1.500 empregos já criados. “Fui contratado para esta obra, mas dependendo do desempenho do funcionário, eles costumam chamar para trabalhar em outras obras.” A alegria de Welbert é também reflexo da boa perspectiva que leva para o futuro. “Pelo bom desempenho que tenho apresentado aqui, acredito que serei chamado sim para outras obras.”

Outro exemplo de trabalhador recém empregado é do vigilante Rogemiro Vieira. Contratado há sete meses, Rogemiro passa as noites no local da obra, zelando pela segurança do material de construção. “Aqui tem que ficar de olho, se bobear tem um pessoal aí que rouba mesmo”. Viúvo e morando com a mãe, o vigia também mostra satisfação com o novo emprego e diz não se importar em passar as noites trabalhando.

O “ficar de olho” é uma necessidade constante na região da Lagoinha, e não é de hoje. No livro de Wander Piroli, uma referência à rua Paquequer sintetiza muito bem esse lado crítico da região: uma rua de um quarteirão só, que abastecia sozinha todo o noticiário policial de Belo Horizonte. No mesmo livro, ao falar das ruas que compunham o bairro, outra referência à má fama da região: “Do outro lado, pegava também a rua Diamantina, embora algumas pessoas que ali moravam não gostassem de ser da Lagoinha. Mas eram. E, no fundo, tinham um certo orgulho”.

As obras na Antônio Carlos continuam; a “cara” da região vai se transformando, casas são demolidas, comércios deixam de existir; mas a insegurança não. Justamente o que não deveria permanecer permanece. “A insegurança”, insiste, “gosta da região”. Ou são as autoridades que insistem em não tomar as [reais] necessárias providências?

Um aparente mendigo caminha à beira da construção. Caminha e para, caminha e para, caminha e para. A aluna-jornalista aproveita a proximidade do vigia da obra para falar com o mendigo. Não fosse o vigia, ela teria medo. Sente dor ao pensar assim. Medo do ser humano! Doloroso, desumano, mas real: não fosse o vigia, ela teria medo. O homem diz apenas que não dá mais para ficar ali, que precisa de outro lugar. E segue; agora, um pouco mais rápido do que antes, demonstrando certa desconfiança. Seus passos parecem estranhar o fato da moça ter lhe dirigido a palavra. Coisa estranha e medonha, um diálogo entre humanos! E, do diálogo, apenas uma conclusão: era um homendigo.

Homendigo foi um termo criado ali, naquele momento, já que o homem não disse quem era, não disse seu nome, nem o que fazia ali, nem o que fazia da vida. Só disse “outro lugar, não dá mais, preciso de outro, outro lugar”. E isto pronunciado bem devagar, cada trecho entre as vírgulas, como se estivesse perdido em seus pensamentos. Homendigo define, então, a situação antissocial daquele homem, que mesmo sem ter feito nenhuma mendicância naquele momento, parece um mendigo; que, mesmo sem ter demonstrado nenhuma ameaça, faz com que a moça necessite da presença do vigia; e que, mesmo a moça também não demonstrando nenhuma ameaça, faz com que o homem necessite se afastar dali um pouco mais rápido do que antes.

A duplicação da avenida Antônio Carlos, na verdade, complementa a Linha Verde, um projeto do governo do Estado, em parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte, que objetiva facilitar o acesso entre o centro da capital e os aeroportos da Pampulha e de Confins, criando um corredor de ligação entre esses pontos. Além disso, existe também interesse em “abrir caminhos” para a Cidade Administrativa do Estado de Minas Gerais, uma construção arquitetônica que abrigará a administração pública estadual.

Duplicação da Antônio Carlos, Linha Verde e Cidade Administrativa são projetos com atributos que certamente trarão desenvolvimento para Belo Horizonte e Minas Gerais. Somados ao progresso, todos se propõem a serem sustentáveis. Mas o que é sustentabilidade além de uma palavra na moda? A definição mais aceita mundialmente foi apresentada pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 1987, em um documento chamado “Nosso Futuro Comum”. Conhecido também como "Relatório Brundtland", o documento define desenvolvimento sustentável como “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as futuras gerações atenderem às suas próprias necessidades". E explica que sustentabilidade se refere à continuidade dos aspectos ambientais, econômicos, sociais e culturais de uma sociedade.

Em uma análise mais cuidadosa do projeto das obras na Antônio Carlos, encontram-se possibilidades economicamente sustentáveis, como geração de empregos e atração de investimentos. Tudo isso, além do lado ambiental, com as 1.500 árvores previstas no projeto paisagístico, para serem plantadas ao longo da avenida. Quanto à sustentabilidade social, há apenas reflexos das áreas econômica e ambiental, mas nenhuma perspectiva para homendigos.
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Por enquanto, a Lagoinha tem estado apenas no meio do caminho de obras memoráveis para Belo Horizonte. Obras memoráveis para o crescimento econômico, para o governo, para as melhorias de que o trânsito necessita, enfim, para as boas consequências que todo esse progresso trará. Mas e a memória histórica e cultural da região? E os problemas da criminalidade? E as vidas sub-humanas que passam por ali? Por enquanto, nenhuma ação, nenhuma providência, nenhum projeto. Mas ainda está em tempo. Ainda há tempo para não se repetirem os erros do passado, para que a Lagoinha deixe de estar no meio do caminho para fazer parte dele. Quem sabe a próxima reportagem sobre esse assunto possa ser intitulada “Uma parte do caminho, a Lagoinha”?
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REPORTAGEM E FOTOS DE DANIELA MACEDO
POSTADO POR DANIELA MACEDO

Caos Urbano

Belo Horizonte vem enfrentando nos últimos messes inúmeras mudanças decorrentes das obra que percorrem toda a cidade. Uma delas é a duplicação da avenida Antônio Carlos, investimento que ultrapassa os R$248 milhões de reais, está iniciativa tem a participação com o Governo de Minas Gerais e a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

A obra tem como objetivo aumentar para 12 as faixas de tráfego de circulação de veículos, sendo distribuídas em quatro pistas. O projeto conta também com a criação de sete viadutos, quatro faixas exclusivas para os ônibus, largura das pistas de 25 metros para 52 metros e cerca de 1.500 árvores a serem plantadas.

A Antônio Carlos é uma das principais avenidas de BH. Ela começa na região Central de Belo Horizonte, no tradicional bairro da Lagoinha e se estende até a direção norte, na Barragem da Pampulha. A avenida atravessa bairros populosos como Cachoeirinha, Aparecida, Bom Jesus e São Francisco.

Belo Horizonte é uma das cidades brasileiras que vão receber os jogos da Copa do Mundo de 2014, e por isso a conclusão desse projeto é importante para a cidade, uma vez que a Antônio Carlos é um acesso direto ao Estádio Governador Magalhães Pinto, o popular “Mineirão”, onde acontecerão os jogos. Para receber a copa, de acordo o governador Aécio Neves, a duplicação da avenida Antônio Carlos é primeiro passo. "Estamos falando de um corredor que facilita a ligação da cidade com o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, e também com o Aeroporto da Pampulha, além do próprio Complexo Mineirão/Mineirinho. Por isso, a importância desta obra e a razão pela qual o governo resolveu assumi-la. As obras caminham em uma velocidade extraordinária", concluiu o governador ao site http://www.marciolacerdabh.com.br/.

Para tranquilizar a população sobre os inconvenientes decorrentes da obra, o governo utiliza a seguinte frase “Os transtornos são temporários e os benefícios para sempre”. Uma forma de conscientizar a população da importância desta construção, por mais transtornos que ela vem a causar durante a sua realização.

A moradora Tânia Alves de Toro, de 51 anos, reside na rua Diamantina está vendo de perto as mudanças que estão acontecendo no bairro. A produtora de eventos que trabalha no Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH), reclama dos transtornos causados pela obra na Antônio Carlos. “É um caos total. Barulho durante todo o dia e à noite, além da sujeira e poeira. Minha casa fica coberta pelo pó. Meu filho e eu já até ficamos doentes”, afirma. Estes são alguns dos problemas encontrados em torno da obra. Tânia ainda relata o problema no trânsito. “A circulação de veículos ficou muito lenta. Congestionamentos todos os dias, principalmente nos horários de pico”, disse.

Outro fator também entristece a moradora é a partida de seus antigos vizinhos, que moravam no bairro a mais de 50 anos. Eles tiveram suas casas desapropriadas por causa da obra, assim como alguns comerciantes como supermercado, farmácia e sacolão, o que fica mais difícil para os moradores do bairro. Mesmo assim, Tânia Alves vê de forma positiva a obra na avenida Antônio Carlos. “Depois da obra, os imóveis vão estar mais valorizados, a vista vai ficar mais bonita e o trânsito vai melhorar muito”, justifica.

O complexo da lagoinha é a parte que mais vem sofrendo com as obras da duplicação da Antônio Carlos. Ao passar pela região as pessoas enfrentam diariamente vários transtornos, desde congestionamentos quilométricos até desapropriação de terrenos para ampliação das avenidas.

Moradores e funcionários da região reclamam dos barulhos constantes e de principalmente de certas pragas urbanas como ratos, baratas e escorpiões, que se alastram desde o inicio das obras. A estudante universitária Daniele Aparecida reclama também da sinalização precária na região. “Envolvi em um acidente de transito devido a poucos dias devido o estreitamento das pistas, que faz com que carros andem muito próximos uns aos outros”.

Está prevista para finalização das obras em 31 de março de 2010. Até lá a população terá que contar com muita paciência para enfrentar problemas com estes.

Sem dúvida conviver nos grandes centros urbanos tem lá suas particularidades, barulho, poluição e estresse são uns dos ingredientes para criar um conturbado convívio social.
Ficar em casa e tirar uma boa noite de sono e ideal para recarregar as energias. O problema é quando este mundo ideal se tona seu pior inimigo.

O aposentado Claudionor Ribeiro de 63 anos, tem presa em mudar da região. Morador a cerca de 30 anos no bairro da Lagoinha acompanhou várias transformações onde vive, algumas delas nada interessante. “Fiquei sem energia elétrica por dois dias por causas das obras, tenho que tomar remédios controlados que ficam armazenados na geladeira, tive que deixá-los em casa de amigos para não estragarem”.
A criminalidade e o descaso público fizeram com que o bairro perdesse o seu “brilho” ao longo dos anos, além de ser um dos mais antigos de BH, ele possui uma grande importância no cenário cultural da cidade.

O bairro da Lagoinha por encontrar-se bem próximo do centro de BH e também da rodoviária estadual, necessita realmente de uma reestruturação física em vários aspectos, principalmente em vias que cortam a região, como é o caso da avenida Antônio Carlos.

A Lagoinha é bastante conhecido e muito frequentado, destaca-se no bairro o Uni-BH, a igreja Batista da Lagoinha é o Colégio batista Mineiro.
Criado por imigrantes italianos trazidos à época da construção civil da capital. O bairro foi por muitos anos o sinônimo da Boêmia em BH. A principal via de acesso ao local era pela Rua Itapecerica, onde aglomerava botequins e pensões. Explica seu nome por causa da sua origem, pois em seu surgimento a região era cercada por várias lagoas.

Hoje quase não se enxerga no bairro suas tradicionais características dos belos casarões da década de 60. A real mudança no cenário da região foi alterada drasticamente quando foi construído o túnel da Lagoinha - Concórdia, em 1971 junto com a duplicação dos viadutos que ligavam o Centro á zona Norte.

Uma obra que gera renda e transtornos

Há cerca de cinco anos moradores da Avenida Antônio Carlos vêem na obra transtornos. Já os moradores de rua da região encontraram uma fonte a mais de renda


Por Fernanda Oliveira, Geanine Nogueira e Rafael Moraes



Ferros, cimento, areia e madeira, são alguns dos principais itens de uma obra. Estes materiais estão espalhados pelas ruas e, muitas vezes, são encontrados por pessoas que saibam fazer bom uso deles. Como é o caso dos moradores de rua que habitam a Avenida Antônio Carlos. Eles são muitos, às vezes chega até a ser difícil contar quantos estão reunidos em um mesmo local. Mas uma coisa é fácil de identificar, o que eles procuram.

No momento o que vem atraindo a atenção dos moradores de rua, da Avenida Antônio Carlos, são ferros, que na maioria das vezes são arrancados de antigas instalações ou largados por operários na obra. Eles vendem esse material para conseguir dinheiro para comprar alimentos ou sustentar algum vício. Carlos Rodrigues do Nascimento bebia muito e há cerca de dez anos, foi abandonado por sua esposa e filhos por causa das constantes brigas. “Quando ela me abandonou eu fiquei doido comecei a beber mais e acabei perdendo casa e emprego. Hoje não tenho documento nenhum e ainda vivo da caridade dos outros”, afirma.

Desde que começaram as obras na Avenida Antônio Carlos, Carlos Rodrigues viu na recolha de ferros uma fonte de renda. “Eu vou andando pela avenida até encontrar alguma coisa que dê para vender. Com o dinheiro que eu consigo compro comida”, diz. Os objetos encontrados podem ser vendidos para locais que compram sucatas, o que ajuda a promover a caça pelos metais. Nestes locais um pedaço de ferro pode custar até R$1. O valor a ser pago depende do peso.

Os catadores de materiais são conhecidos pelos operários da obra como “Pobrinhos”. “Os Pobrinhos passam por aqui todos os dias, eles saem pegando tudo que encontram, mas na maioria das vezes o que eles procuram é ferro para vender”, afirma José Carlos da Silva, pedreiro da obra.

A opinião dos operários a respeito dos “Pobrinhos” é bastante divergente. Alguns acham que eles fazem isso, porque não têm outra opção de vida e usam o dinheiro para comprar comida. Mas há aqueles que digam que o dinheiro conseguido com a coleta é usado na compra de drogas. “Eu não saio seguindo eles pra saber o que fazem com o dinheiro. Mas duvido que eles comprem comida”, afirma Márcio Melo, operário. Já José Carlos da Silva, tem uma visão diferente, “olha não acredito que seja assim como o Márcio fala, claro que tem aqueles que usam o dinheiro para sustentar um vício, mas acredito que a maioria usam esse dinheiro para sobreviver. O mundo está muito difícil. Por isso, acredito na honestidade deles”.

Os operários nunca receberam orientações ou foram impedidos de dar sobras de materiais para os catadores. Mas todos têm medo de represárias. “Ninguém nunca falou que não podia, mas é melhor evitar”, diz José Carlos da Silva.

Os escombros como moradia

Em alguns pontos da avenida, restam escombros das demolições feitas pelas concessionárias contratadas. Estes locais eram antigas lojas ou imóveis que foram desocupados para o andamento da obra. Por enquanto estão desabitados e acabam transformando-se em residência improvisada para moradores de rua que, diariamente, freqüentam estes locais.

Os operários que trabalham na obra contam que o dia todo, homens e mulheres invadem esses prédios de onde só saem, na maioria, durante o dia, em busca de dinheiro e comida. Eles andam em grupos e sempre procuram por ferragens e alumínios. Quando conseguem o que querem voltam para os escombros para passarem a noite.

A maioria dos prédios desabitados que estão localizados dentro do grande canteiro de obras da Avenida Antônio Carlos, são usados pelos moradores para passarem a noite. Segundo o operário José Carlos da Silva têm seguranças espalhados por toda obra, mas eles não conseguem controlar os moradores de rua. “Os seguranças ficam na obra durante a noite, alguns têm até medo dos “Pobrinhos”, por isso, não impedem que eles fiquem nos escombros”.

Prédios desativados servem de moradias

O outro lado

Os moradores das proximidades da obra não estão satisfeitos com a presença dos moradores de rua nos escombros. Segundo eles, por andar em grupos, a presença dos mendigos nos escombros intimida e, muitas vezes, chega a ser desumano. É o que afirma o motorista Gilberto Moreira da Silva, “às vezes, chega a ter dez pessoas naquele local. Ficam bebendo e fumando o dia inteiro e voltam para dormir. Recentemente, alguns políticos e demais autoridades foram visitar esses locais e ficaram chocados com a situação dessas pessoas, um ambiente sujo e fedorento, quem não ficaria? Eles fazem as necessidades em qualquer canto, esse não é lugar para nenhum ser humano”, conta.

Os pedintes também incomodam os moradores. Para P.M.S., moradora que pediu para não ser identificada, os pedintes vão à sua residência pelo menos três vezes ao dia. “É complicado. O entra e sai destes locais é constante. Chegam aqui e pedem dinheiro e comida. Acabo cedendo, até mesmo para me ver livre deles”, afirma. Já Maria Cristina Pereira, que trabalha em uma padaria perto da construção, torce pelo fim das obras. “De repente, assim eles vão embora. Eles se sentem no direito de ganhar tudo. Fui ameaçada recentemente por um deles, porque não quis dar dinheiro a ele, o individuo chegou quase a me bater. Se não fosse meu irmão intervir, algo de ruim tinha acontecido”, relatou.

Mas por que morar na rua?

Para muitos moradores de rua, o aspecto sobrevivência é o principal fator por uma série de perdas. Muitas vezes não por culpa própria, se encontraram privados de uma das maiores necessidades da pessoa humana: uma casa, um lar, com tudo aquilo que isso representa, isto é, aconchego, um mínimo de conforto, privacidade, calor humano, família.

Mas não é apenas nos escombros da obra da Avenida Antônio Carlos que os moradores de rua da instituição dormem. Alguns passam a noite em albergues, que são casas onde os moradores de rua vão para passar a noite. Algumas vezes o que desestimula os moradores a procurarem estes locais são as regras. Muitos deles só recebem os moradores até determinado horário, bêbados também não podem entrar.

“Tem albergue em que as pessoas podem entrar no máximo até às oito horas. Quem estiver trabalhando pode entrar um pouquinho mais tarde, mas de manhã todos têm que sair às cinco horas, ou às seis, conforme o abrigo. E tem pessoas não se encaixam e, por isso, moram e dormem na rua mesmo. Quem fizer uso de bebidas alcoólicas não é aceito”, afirma João Matias Santos, morador de rua.

Além dos albergues, os moradores de rua vão para as quebradas, “abrigos” feitos de madeira ou papelão que os próprios moradores fazem para proteger do frio e da chuva. Ainda segundo João Matias Santos, outra opção são os abrigos da prefeitura. “Estes locais também são bons, mas ali dá pra ficar por um tempo de 3 a 6 meses, podendo ser ampliado, mas não dura muito tempo. Então nesse tempo que a gente fica a toa eu curto um cigarro, mas comum, tem uns que gostam de maconha, crack eu gosto de cigarro, palha e cachaça, que é bom para espantar o frio”.

Para quem mora na rua é muito difícil arrumar um emprego. Além da falta de documentos e a falta de um endereço fixo, o preconceito é muito grande.“O morador de rua tem que aprender a se virar. Achar um trabalho é difícil. Se você der o endereço do abrigo, será discriminado, não querem saber de pessoas de abrigo. Para quem dá emprego este local é freqüentado por bandidos, drogados e bêbados. E se você não tomar um banho, não vestir uma roupa legal, fica difícil de até participar de uma entrevista , vê lá arrumar”, conclui João Matias.


Obras na Avenida Antônio Carlos

Demolições de imóveis, desvios de trânsito, mudanças de pontos de ônibus, transtornos para os pedestres e muita poeira. Estas são algumas conturbações que a grande obra de duplicação da Avenida Presidente Antônio Carlos, iniciada em 2004, vem causando nos milhares de cidadãos que passam diariamente entre máquinas e operários.

Com o projeto trazer mais mobilidade para a via e também ter mais condições estruturais para sediar os jogos da copa do mundo, em 2014, a duplicação deverá custar, ao todo, cerca de R$ 360 milhões. Somente na terceira etapa (última fase do projeto) serão investidos aproximadamente R$ 250 milhões, sendo R$ 160 milhões do Governo de Minas e R$ 60 milhões da prefeitura.

A Avenida Antônio Carlos é considerada uma das principais avenidas de Belo Horizonte, que liga o centro da capital a região da Pampulha. Estão sendo ampliados 3,9 quilômetros de pista, que começa no bairro São Francisco e vai até o complexo da Lagoinha, onde se localiza o Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH).

No início deste ano o Governo do Estado assumiu a terceira e última fase da obra de alargamento da avenida, trecho que fica compreendido entre a rua Operários, no bairro Cachoeirinha, e o complexo da Lagoinha, no centro de Belo Horizonte. A previsão é que a obra esteja concluída até 2010.

Para falar mais precisamente em números, dados da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (SETOP), foram desapropriados cerca 270 imóveis. O cenário que se vê diariamente são os pedestres passando entre os entulhos. Estimativas também apontam que aproximadamente 85 mil veículos trafegam diariamente pela via. Em determinados horários, em específico nos horários de pico, é impossível passar de carro pela Avenida Antônio Carlos e não encontrar pelo menos um congestionamento. São carros e ônibus dividido espaço com pedestres, máquinas e centenas de operários.

Há também quem tenha se beneficiado com as obras. Dados apontam que foram gerados 4.700 empregos diretos e indiretos. Todos estão trabalhando para que até os três primeiros meses de 2010, as pistas, que mediam anteriormente 25 metros, cheguem aos 52 metros e que cheguem a quatro o número de faixas de tráfego em cada sentido, sendo duas faixas destinadas ao busway – tráfego somente para ônibus.

Já foram entregues dois trechos da obra. Na primeira etapa concluída foi a duplicação que fica entre a Rua Viana do Castelo, no bairro São Francisco e a rua Aporé, no bairro Aparecida. Em um trecho de 1.340 metros de avenida, foi construída uma ligação da Antônio Carlos com o Anel Rodoviário. O trecho agora possui quatro faixas de rolamento em cada lado e duas pistas centrais exclusivas para o tráfego de ônibus coletivo.

Já a segunda etapa da obra compreendeu um trecho de aproximadamente 700 metros. Se localizando entre as ruas Aporé e Operário, no bairro Aparecida. Onde existem também pistas exclusivas para ônibus, rampas e escadas que facilitam o acesso para os moradores do local.

Cuidado! Perigos à frente...

As obras de duplicação da avenida Antônio Carlos trazem insegurança à comunidade local

Por Gabriela Porto, Natália da Costa e Oswaldo Diniz
Fotos de Natália da Costa

As obras na avenida geram controvérsias sobre os benefícios para a população

Por dia, 85 mil pessoas circulam em uma das maiores avenidas de Belo Horizonte – a Antônio Carlos. E quem não passa pela avenida há um ano e meio, dois anos, não a reconhecerá. Desde 2008, a Antônio Carlos está em processo de duplicação. Para a cidade, esta obra será de grande importância devido ao número cada vez maior de carros nas ruas. Já para as pessoas que são afetadas diretamente pelos impactos da obra, a situação não é tão otimista.

Segundo dados divulgados em site do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (disponível em http://www.marciolacerdabh.com.br), foram investidos cerca de R$ 250 milhões nas obras de duplicação da avenida Antônio Carlos. Ampliação esta que, dada sua importância, foi assumida pelo Governo Estadual, o que imprimiu a ela um ritmo célere. A expectativa era de entrega do viaduto da rua Operários em outubro, mas já é novembro e a obra não ficou pronta até agora. De acordo com a avaliação do governador Aécio Neves numa visita feita em junho deste ano às obras, a previsão de entrega de todo o novo Complexo Viário da Lagoinha é em março de 2010. “Mais especificamente no dia 28”, segundo o site.

Tudo isso, ainda segundo o governador, para benefício daqueles que circulam diariamente pela região: cerca de três milhões de pessoas. Gerando empregos, atraindo novos investimentos, “movimentando o comércio e agilizando, com segurança, o deslocamento de trabalhadores”. Estas foram as palavras usadas pelo governador, na ocasião. Mas, há que se ressaltar uma, dentre outras do discurso: segurança. Existe, de fato, segurança na região? A impressão que se tem, mesmo para um transeunte ocasional, é que esta não é uma realidade. A menos que o governador se referisse a um futuro, que ainda parece distante. E, até agora, inseguro.

Este é, aparentemente, o cotidiano de trabalhadores, estudantes, jovens, idosos, enfim, de todos os que circulam pelo bairro Lagoinha diariamente, em seu itinerário rotineiro. Para os pedestres, as calçadas praticamente inexistem, até mesmo para um trajeto rápido, que tem se tornado cada vez mais perigoso. Seja do ponto de vista do trânsito, seja do ponto de vista da segurança pública.

Pedestres e trabalhadores convivem diariamente com a falta de segurança

Com as obras, foram desapropriados aproximadamente 300 imóveis, entre comerciais e residenciais. E, com tais desapropriações, vieram ocupações desordenadas, em sua maioria por andarilhos, que podem ser ou se tornar marginais, assaltantes. Considerando-se que a região já abriga um dos aglomerados de Belo Horizonte famoso pela criminalidade, a “Pedreira Prado Lopes”, a situação foi agravada e o ambiente se tornou inóspito.

Além disso, o trânsito ficou caótico. A tensão chega a ser palpável e pode ser percebida nas imprudências cometidas a todo instante, que põem em risco a vida de pedestres e condutores. Em apenas alguns minutos de observação, num ponto próximo ao Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), pode-se comprovar isto. São motoristas e motociclistas que não respeitam o tempo dos semáforos, pedestres que atravessam fora da faixa (sim, ela existe, embora não seja utilizada!), operários que transportam material em passagem destinada a pedestres, dentre muitas outras situações de risco.

A desejada segurança, para muitas pessoas, ainda não faz parte deste cenário. Outras, entretanto, nem mesmo percebem sua ausência, tão imersas estão em sua rotina. Tais pessoas se adaptam. Acostumam-se à violência, às condições adversas, às mudanças. E vão convivendos com tudo isso, mesmo a contragosto, para continuarem vivendo. Para algumas delas, torna-se até um modo de viver.



Mudar é preciso

A sinalização e as medidas de segurança são insuficientes, segundo os transeuntes

Alheios a detalhes de segurança, muitos trabalhadores saem de sua terra natal para tentar a vida nas metrópoles. Nas obras da Antônio Carlos, algumas histórias e estórias são parecidas. “Aqui tem mais gente de fora do que daqui mesmo. Tem cidadão do Maranhão, Piauí, e Pernambuco”, diz o carpinteiro José Carlos Gonçalves da Silva, 26 anos. Ele mesmo reforça o time nordestino no escrete dos forasteiros. Natural de Paulo Afonso, no interior da Bahia, o rapaz veio a pedido do consórcio Andrade Gutierrez/Barbosa Melo, responsável pelo andamento das obras de duplicação. “Tinha acabado de chegar do Rio de Janeiro. Eles tinham meu currículo, fiz testes e fui aprovado”, conta.

A vida quase nômade em prol da sobrevivência não é novidade para José Carlos. Há dez anos trabalhando como carpinteiro, ele já trabalhou, além do Rio, em Belém, Maceió, Aracaju, no Maranhão e no Piauí. Belo Horizonte, antes da fase atual, já fez parte da rota do baiano. “A primeira vez foi em 2004. Trabalhava ainda como auxiliar de carpinteiro”, lembra. Segundo o jovem, a melhor cidade em que viveu foi o Rio de Janeiro. “Lá é bom demais! As praias, a diversão, a mulherada”, comenta o eufórico baiano. A capital mineira também traz outras lembranças, mas não muito positivas. A primeira vez em que esteve aqui foi, para o nordestino, a pior experiência fora de sua terra. “Morava no bairro Eldorado, chegava em casa muito tarde e saía muito cedo. E o trânsito era péssimo”, reclama.

Atualmente, José Carlos não critica a nova fase mineira. Há sete meses na capital, morando na rua Diamantina com rua Rio Novo, no epicentro de seu trabalho, sua qualidade de vida se elevou. “Não pego ônibus e acordo minutos antes de bater o ponto”, brinca. Quando questionado sobre a violência na região, o baiano “banca” o mineiro. “Nunca vi nada, nem ouvi”. Segundo o rapaz, o povo da cidade é tranquilo. “A maioria é sangue bom. Gente ruim tem em tudo quanto é lugar mesmo”, reflete. Para ele, quem chega de fora precisa entender e se deixar cativar pelos nativos. “O cara tem que saber chegar e fazer amizade”, orienta.

Forçosamente afastado da família, o carpinteiro possui um filho de quatro anos, criado com a avó. “Ligo pra eles três vezes por semana. Dá pra matar a saudade”. José Carlos pretende trazer para a capital mineira um casal de irmãos. O caçula, que está com 21 anos, é montador e desenhista. A irmã, de 28, trabalha como doméstica. “Quero vê-los estruturados aqui e depois vou embora”, revela. Sua intenção é trabalhar como montador de andaime em plataformas.

O carpinteiro fez um curso básico de sobrevivência no mar e espera a hora certa de agir. “Tenho como fechar acordo a qualquer hora. Lá eles pagam melhor e você trabalha 15 dias direto, depois folga a outra metade do mês”, explica.

José Carlos ganha, com as horas extras, entre R$1.300 e R$1.500 por mês. Além da remuneração em dinheiro, ele recebe alimentação e atendimento médico na própria obra, tem convênio com farmácias, recebe vale-transporte e cesta básica. O suficiente para se manter sem grandes preocupações, segundo ele. E ainda fazer umas gracinhas. “Adoro passear pela cidade. A Praça da Liberdade é o ponto mais bonito”, fala. Mas a que nordestino não resiste mesmo é o bom e velho forró. “Vou ao Bailão Sertanejo, Terra de Minas. Divirto-me bastante”. E as casas de shows daqui têm dado sorte ao baiano. “Há um mês conheci uma mulher e já estamos namorando”, revela, animado.


Polícia está atenta


A população tem medo de circular pela região da Lagoinha

Quando as pessoas passam no entorno das obras, especialmente no trecho entre o Hospital Belo Horizonte e a região da Lagoinha, elas encontram um cenário deplorável. Vários andarilhos, com aspecto nada agradável, se agrupam na extensão da avenida Antônio Carlos, muitos à procura de sustentar seu vício do crack. A sensação de insegurança é visível no semblante dos pedestres. “Morro de medo de passar aqui. A qualquer hora do dia, posso ser roubada”, diz a estudante Verônica Lopes.

Para o Major Perez, comandante da Companhia 21, do 34º Batalhão da Polícia Militar, o quadro se complicou com a duplicação da avenida. “Depois da derrubada de imóveis antigos, traficantes e usuários de drogas passaram a movimentar o comércio ilegal livremente”, conta. Para combater a criminalidade na região, segundo o oficial, trabalham em equipe militares das companhias Tático Móvel, Rotam, Polícia de Eventos, Canil e Radiopatrulhamento Aéreo, além dos oficiais da companhia comandada por ele. Mas a quantidade do contingente não é revelada. “Se você conhecer o tamanho do seu oponente, a guerra já está vencida”, comenta.

Apesar do quadro considerado instável pela população, o Major revela que os índices de reclamações não se alteraram. “A ocorrência só é confirmada quando há presença policial para oficializar o fato. Caso contrário, não existe”, explica. Segundo o militar, a visibilidade dos possíveis meliantes assusta quem mora e frequenta a região da Lagoinha. “Antes eles estavam escondidos. Agora aparecem com mais força, justamente porque os esconderijos foram demolidos”.

Ainda de acordo com o Major, existem dois tipos de segurança. A objetiva e a subjetiva. “A objetiva é o fato presencial, palpável. A subjetiva se refere ao sentimento das pessoas em relação à segurança”, explica. E é esta última que vem provocando alarde na população. “Muitos se sentem inseguros por causa do cenário de andarilhos e lugares propícios à prática de crimes”.

Entretanto, o policial acredita que toda a preocupação tende a diminuir com o término das obras. “À medida que os lugares onde eles ficam passarem a deixar de existir, muitos vão para diferentes regiões”, comenta. Segundo o Major, outras vertentes do poder público podem auxiliar no processo. “Contamos com os projetos sociais da prefeitura, que podem recolocá-los no mercado de trabalho, mandá-los de volta para suas cidades, ou encaminhá-los para clínicas de reabilitação”, explica. O oficial diz ainda que, atualmente, nem todos os andarilhos são criminosos. “Muitos estão trabalhando, catando ferro e papel para vender. Como não é possível identificar a conduta apenas pelo aspecto visual, fica difícil saber quem é bom ou ruim”, lamenta.



Nova Antônio Carlos – mais um passo rumo ao progresso


As obras trazem melhorias para a cidade e problemas para a população

O projeto de duplicação da avenida Antônio Carlos já está em sua última fase e a previsão de término é março de 2010. Nessa etapa, o trecho em obras vai da rua dos Operários até o Complexo da Lagoinha.

“Não aguento mais ter que passar por essa Antônio Carlos toda esburacada. É engarrafamento todos os dias, mas sei que é por uma boa causa”, desabafa a estudante de História, Luciana Pimenta.

No total serão duplicados quase quatro mil quilômetros, do bairro São Francisco até o Centro, com o custo final de R$ 250 milhões, sendo 190 do governo do Estado e 60 da Prefeitura. Para que a obra se tornasse viável, foram feitas mais de 300 desapropriações, 240 só na segunda etapa. Segundo a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas, a previsão é que a duplicação da Antônio Carlos beneficie diretamente mais de três milhões de pessoas, com fluidez e agilidade no trânsito, redução de custos nos transportes, maior segurança nas imediações da avenida, além da geração de emprego.

A Antônio Carlos é a principal via de acesso da Região da Pampulha e nela estão localizados importantes pontos da capital, como a Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, o Aeroporto da Pampulha, o complexo esportivo do Mineirão e Mineirinho. Com a conclusão das obras, a via será uma alternativa rápida de ligação ao Aeroporto Internacional Confins e ao Expominas, junto com a Linha Verde.

“Acredito que esse conjunto de obras também será de grande importância na realização da Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016, uma vez que Belo Horizonte terá participação já confirmada nos dois eventos.”, afirma o engenheiro Geraldo Azevedo, que está no projeto desde o início. Segundo Geraldo, a cidade ganhará agilidade no transporte de turistas e atletas dos aeroportos e hotéis ao Mineirão. “Será um momento inesquecível para BH e para o País. Tenho orgulho de estar fazendo parte dessa história”, completa.




Previsão de como ficará o viaduto na rua Rio Novo