segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ela na Obra

De sexo frágil, não tem nada

Por Luana Braga e Juliana Corrêa
Fotos: Luana Braga

Se disséssemos que ela acorda todos os dias às 06h, faz o café, apronta as crianças, despacha o marido, ajeita a casa, e depois vai para o trabalho, não acharíamos estranho. No mundo de hoje, a maioria das mulheres não só administram as atividades domésticas, como também, são funcionárias, alunas, amigas e mães. Atualmente, são mais do que antes, um ser multifuncional, dotadas de tarefas, que por opção ou não, têm que dar conta do recado, como se não tivessem alternativa. Patrícia Nadir de Miranda é um exemplo que vai contra ao paradigma descrito. Ao invés de crianças, governa um grupo de homens, e quanto às funções do lar, ela passa longe.

Casada, Patrícia têm 32 anos, é Técnica de Segurança do Trabalho da Andrade Gutierrez, empresa que atua no ramo da construção civil. Há oito anos, dedica sua vida à segurança de funcionários, e também das pessoas que passam por onde uma obra está sendo construída. Mais do que isso, Patrícia dá ordens, manda, e é respeitada. “Sou brava, muito brava. Sou firme no jeito de falar e falo grosso. Acredito que assim eles me respeitam mais.” É dessa maneira que a senhora de apenas 1,55m coordena a equipe formada por 15 colaboradores que trabalham cuidando da limpeza e sinalização na duplicação da Avenida Antônio Carlos, altura do bairro Lagoinha, localizado na região noroeste da capital mineira.

A chefe, como é chamada, diz preferir mil vezes trabalhar com homens do que com mulheres. Ela conta que, quando manda um homem fazer algo, ele faz na hora, e a mulher não; questiona, implica e acaba fazendo mal feito. “Parece que quando trabalhamos com pessoas do mesmo sexo, há competição e aqui não. O que eu falo, tá falado. Eles só me obedecem.” Patrícia não exagerou quando disse isso. Ao chegarmos para iniciarmos a conversa, ela estava no rádio xingando, e depois, continuou chamando à atenção dos funcionários perto de nós. E por incrível que pareça, todos a ouviram, se justificaram e fizeram, na hora, o que ela mandou. A mulher é dura no modo de agir, e não pensem que eles não gostem, pelo contrário, a maioria assume preferir ter uma mulher no comando.

Weslen Ramos foi contratado há dois meses para fazer parte da equipe chefiada por Patrícia. Na obra, ele tem como obrigação manter a limpeza e sinalizar as passagens para os pedestres. O rapaz é um dos que admiram a postura dela. “Ela é muito profissional. Você sabe como é homem, se não ficar no pé, a gente enrola,” afirma. Já o trabalhador David dos Santos, de apenas 19 anos, destaca que mesmo xingando, prefere tê-la dando ordens. Outra testemunha é o Sr. Dílson, homem tímido, simples, que trabalha como sinaleiro. “Tudo que ela manda, tem que fazer na hora, e aí se não fizer”, revela o operário. Um fato interessante é que nenhum dos profissionais fala mal da líder, mesmo ela não estando por perto.

Patrícia explica que, para eles, é menos humilhante ouvir um grito feminino, a um alto e grosso xingo masculino. “Quando um homem chefe grita e manda fazer algo, eles podem achar que isso é um desaforo e podem até provocar uma confusão.” Ela ainda diz que, quando chama à atenção, eles mesmos já justificam a sua postura. “Quando eu grito com alguém e mando fazer algo rápido, os homens, entre eles, falam para o que recebeu a bronca: Deixa isso pra lá, ela é mulher e deve tá naqueles dias. Daí morre o assunto e depois fica tudo bem," explica.

A líder conta que quando percebe que um de seus funcionários é responsável e dedicado, ela o incentiva a estudar, ajuda no que for possível, e ainda, arruma uma “peixada” para que seu subordinado cresça na profissão desejada. “Faço isso com o Gustavo porque percebo que ele tem perfil de líder. Se ele tivesse um chefe homem, com certeza ele não o ajudaria. Parece que existe competição entre funcionários do mesmo sexo”, diz. Gustavo afirma que Patrícia realmente o ajuda e que é muito grato por isso.

No modo de se vestir, não apresenta nenhuma feminilidade. Usa calça jeans, camisa de manga comprida, botas, óculos escuros e capacete. É claro que, para trabalhar em obras essa seja a melhor vestimenta, mas acessórios como brincos, pulseira, gargantilha, anel, que geralmente são usados pelas mulheres, independentemente do que façam, ela não usa nada, e para isso, também tem uma explicação. “Uso essas roupas para não dar direito de me olharem como uma mulher que chama a atenção.” Patrícia acredita que desse modo, os homens jamais teriam coragem de assediá-la, e desse jeito, ela impõe mais respeito.

Essa postura de durona, ela afirma que não é só no ambiente de trabalho. Casada há pouco mais de cinco anos, Patrícia revela tratar na linha o seu marido e confessa que o papel de dona de casa é ele quem faz. “O meu marido só não passa roupa. É ele quem lava, cozinha e arruma a casa. Ele Também tem que ser né? Ele só trabalha oito horas!” Considera a jornada do marido pouca em comparação à sua. Diz chegar às 07h ao trabalho e ir embora por volta das 20h, ou seja, um total de 13 horas diárias debaixo de sol, chuva e calor. Apesar das longas e árduas horas trabalhadas, a chefe assume amar o que faz. Ela conta que, como Técnica de Segurança, poderia trabalhar em hospitais, que segundo a mesma é mais tranquilo. Mas prefere obras, pois além de gostar, o salário é mais compensador.

Apesar de ser uma figura enérgica, Patrícia demonstra ser uma mulher comum, que também possui sonhos e faz planos. Recentemente comprou uma casa e um carro. Para o ano que vem, está pensando em ter um filho, mas até nisso ela deixa bem claro que, como não tem tempo, já olhou uma creche, inclusive o horário. “O bebê poderá ficar de 07h às 18h.” conta sorrindo.

Investimentos na Antônio Carlos

O alargamento da Avenida Presidente Antônio Carlos, que foi dividida em três etapas, está na última fase e, segundo previsões do governo, será encerrada em março do ano de 2010. A duplicação da avenida, considerada uma das maiores da capital mineira, custou para os cofres públicos cerca de 250 milhões de reais, sendo 76% investimento feito pelo Governo de Minas e 24% pela Prefeitura de Belo Horizonte.

Segundo a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas, esta é uma das maiores obras realizadas na região e favorecerá toda a população. A Avenida Antônio Carlos, que será uma via de acesso rápido, juntamente com a linha verde, obra concluída ano passado, facilitará o trânsito para as pessoas que frequentam os dois principais aeroportos da região.

Estão sendo construídas duas pistas centrais para uso exclusivo de transportes coletivos e táxis, que contribuirá o tráfego de 85 mil veículos que circulam diariamente pela área. Devido a retiradas de algumas árvores da avenida, que estavam no trajeto das pistas, serão plantadas 1.500 mudas entre os 2,2 km de construção.

As empresas Andrade Gutierrez e Barbosa Melo, responsáveis por toda a obra, contam com o empenho de 4.700 pessoas, que trabalha ininterruptamente dia e noite, para construírem trincheiras, viadutos e passarelas. Além de favorecer o tráfego entre o centro e a zona norte da capital, a avenida é o principal corredor de acesso a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Mineirão, que será sede dos jogos da Copa do Mundo de 2014. Também, um dos acessos para o novo Palácio do Governo que está sendo construído na região norte de Belo Horizonte.

Um comentário:

  1. -Concordância: Patrícia tem (-1);
    -Usem um manual para normatizar o texto;
    -Crase: chamou a atenção (-1);
    -Vírgula entre sujeito e verbo: Tudo que ela manda (-1);
    -Cuidado com os errinhos.

    Bom texto e excelente abordagem.

    Nota: 22/25.

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