segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Lagoinha em tempos modernos


A obra da Antônio Carlos traz a Lagoinha a modernidade e facilidades





Ednéia Fátima Cunha
Luciana Melo


Considerado o primeiro bairro boêmio de Belo Horizonte, desde 1936, quando o atual prefeito Otacílio Negrão de Lima abriu o trecho da Avenida Presidente Antônio Carlos, a Lagoinha faz parte da própria história da capital mineira.
Nos primórdios da década de 40, o bairro se destacou como o segundo centro de comércio de Belo Horizonte. Entre os bondes que circulavam naquela época, existia o comércio dos italianos, portugueses e espanhóis que imigraram para a região. Poucas pessoas sabem, mas o bairro ganhou o nome de Lagoinha devido à lagoa que existia na confluência entre a av. Presidente Antônio Carlos e a rua Formiga.
Neste período, a Lagoinha era um bairro de classe média. Frequentado por dançarinos, seresteiros, gente agitada pela explosão do comércio que cada vez mais mudava o cotidiano do bairro e se consolidava com a abertura de pensões e bares.
O Mercado da Lagoinha continua existindo ate hoje, porém sem a mesma agitação de antigamente. Algumas famílias de colonizadores continuam morando em seus casebres. Contudo, o bairro modificou sua rotina por causa da duplicação da Antônio Carlos.

Com a aproximação da Copa do Mundo de Futebol em 2014, a escolha de Belo Horizonte como uma das sedes dos jogos fez com que o governo do Estado e a Prefeitura de Belo Horizonte viabilizassem o acesso do centro da cidade ao Mineirão e ao aeroporto de Confins. Para tanto, existia a necessidade de melhorias nos corredores de acesso entre as avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado. Desde então, a duplicação da avenida gerou transformações no bairro mais boêmio da cidade e em todos os pontos e bairros da Antônio Carlos.

A segunda etapa da duplicação das obras da Antônio Carlos teve investimentos de R$ 250 milhões e garantiu 4.700 empregos diretos e indiretos, contribuindo para a economia do Estado.






Bem no início da avenida, a obra se mistura com a arte. Em determinada esquina, um sobrado de três andares em mau estado de conservação abriga uma galeria de arte com quadros, pinturas rústicas, placas com nomes de ruas, faixas, ferros velhos e sucatas. O que chama mais a atenção de quem passa por lá é que, no segundo andar do prédio, existem cinco cachorros que vigiam o estabelecimento.







O proprietário Nelson Soares relata que trabalha e reside no prédio que fica na av. Antônio Carlos, n° 181. Sua loja presta serviços para a comunidade com suas pinturas de quadros e placas automotivas. Para Nelson, é uma área bastante perigosa e, diante do descaso das autoridades em relação ao bairro, seu negócio vai de mal a pior. Seu maior problema são os ferros velhos existentes na região, principalmente o que existe em cima do seu estabelecimento. Segundo Nelson, se continuar do jeito que está, a Lagoinha vai acabar, pois ela já não é mais a mesma, por causa do aumento de assaltos e o constante tráfico de drogas. Ele diz que, quando alguém liga procurando seus serviços e informa o endereço, o cliente desiste, pois tem medo do que pode encontrar. O comerciante ainda é otimista e espera que, com a duplicação da avenida, possa trazer seus clientes de volta, já que o bairro fica perto do centro da cidade.

Nelson argumenta que tem um sócio e que às vezes eles não vendem nada e o pouco que têm, eles são obrigados a dividir com as pessoas que, constantemente, estão pedindo ajuda. Para ele, a Lagoinha virou um bairro de mendigos, ladrões e usuários de drogas. “À noite, após as 21h00, parece uma guerra de cão e gato”, desabafa.
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A obra na avenida fez com que seu comércio fosse prejudicado em 90%. “Quase 100% de prejuízo. É que, muitas vezes, não vende absolutamente nada”, lamenta.

A prefeitura e o governo de Minas, parceiros na duplicação da segunda etapa da avenida, esperam concluir as desapropriações necessárias, a previsão é de que, todos os imóveis sejam postos no chão, abrindo caminho para o alargamento das pistas. Por ora, o cenário é de bombardeio: do Complexo da Lagoinha à rua dos Operários, no Bairro Aparecida, as laterais do corredor de trânsito estão cobertas de entulho e construções vazias, todas com os dias contados. Aos comerciantes, restou apenas fazer as malas.

A incerteza sobre as desapropriações dos estabelecimentos trouxe aos comerciantes cada vez mais dor de cabeça, porque os clientes deixaram de consumir suas mercadorias e serviços.



Ao lado do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH), havia uma antiga casa onde funcionava a Copiadora Dois Irmãos. Por causa da desapropriação, o estabelecimento teve que se mudar para o outro lado da avenida, no nº 457. Os proprietários da loja, Altair e Edson Brasil, dizem que, com a obra, o movimento na loja diminuiu bastante, porque os estudantes deixaram de solicitar seus serviços. Para ele, o principal motivo disso tudo é dificuldade que agora existe em atravessar a avenida. “Além disso, não temos garantias de que, neste nosso novo endereço, estaremos livre do fantasma da desapropriação”, afirma.





Logo ao lado da copiadora, no nº 455-A, funciona o estabelecimento Saint Tropez. Nesta casa de massagens, o gerente Patrick, de origem francesa, relatou que, com a obra, os clientes que vinham se divertir sumiram.
Segundo o gerente, a clientela era composta principalmente por homens casados, com idade entre 40 e 60 anos, empresários que frequentavam o local. Patrick relata que a obra atrapalhou muito e que, o prejuízo foi de dois mil reais ao mês .Pôr causa do transito caótico, os frequentadores da casa estão procurando outros lugares que ficam no centro da cidade. Nesse momento, de acordo com o francês, o único remédio a fazer é ter paciência. “Creio que, depois de tudo pronto, vai ser melhor, a iluminação chamará mais atenção, já que a casa está aqui há onze anos, funcionando de 14h00 ás 22h00, com muitas garotas bonitas.” Patrick diz ainda que está fazendo anúncios nos jornais toda semana, a fim de recuperar o prejuízo. A esperança do francês é que a nova Antônio Carlos traga de volta a antiga Lagoinha dos tempos boêmios.




Por outro lado, a boêmia, com certeza, não volta mais. Porém, surge em seu lugar o progresso que a revitalização vai trazer. A avenida Antônio Carlos de outrora deu lugar à engenharia contemporânea, com vias de acesso duplo, viadutos e passarelas que trarão mais luminosidade ao lugar. As alterações feitas em torno da obra trazem também transformações que a modernidade deixará no tempo.

Para alguns moradores, a obra deixa saudades daquilo que eles construíram: suas antigas casas, vizinhos, amigos e o comércio que lhes rendia a sobrevivência. Esta mesma sobrevivência é comemorada de forma diferente pelos homens que trabalham na obra. Estes operários vindos de diferentes lugares em busca de trabalho abandonaram suas casas para demolir as casas daqueles que simplesmente não tiverem opção.
A avenida Antônio Carlos de hoje é a imagem da união dos governantes. Mas o que pensam aqueles que vivem da avenida e que moram nela? Será que os governantes pensaram que tais pessoas não têm mais as marquises para se esconder do frio e da chuva. Para onde irão essas pessoas nômades que habitavam as margens da Antônio Carlos?

Certamente que não se pensou nesses moradores de rua quando foi feito o planejamento para a Copa do Mundo. A visão é clara: tais pessoas serão cada vez mais nômades escondidos em tocas deixadas pela obra e buscando sua sobrevivência através de assaltos que praticam durante a noite.
Mas esta é apenas uma visão da Antônio Carlos de hoje. Uma construção para um futuro incerto.





Um comentário:

  1. -Crase: traz à Lagoinha (-1);
    -Acabou o trema;
    -Concordância: explosão que mudava (-1);
    -Usem um Manual para normatizar o texto;
    -Concordância: governo do Estado e PBH viabilizassem (-1);
    -Acentuação: início (-1);
    -Vírgula entre sujeito e verbo: a incerteza trouxe (-1);
    -Semântica: há onze anos (-1).

    Mais atenção com o texto.

    Nota: 19/25.

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