domingo, 25 de outubro de 2009

TRANSITANDO EM MEIO AO CAOS


Por Anne Morais e Fred La Rocca

Ronaldo Vieira desperta todos os dias às 5h30 da manhã, toma um café amargo “para acordar de verdade” e se arruma para ir trabalhar. Antes de sair de casa, dá um beijo na filha de oito anos e vai pegar o metrô, que o deixa no centro da cidade. Caminha até chegar ao trabalho, bate o cartão às 7h, ri com os colegas e fuma um cigarro da marca Derby. Dali até o final do expediente, às 16h, passa o dia entre homens uniformizados, capacetes amarelos, grades de plástico laranja, faixas indicativas, tratores, terra vermelha e pessoas sem saber aonde ir: ele trabalha nas obras da avenida Antônio Carlos.

Desde o início das reformas, Belo Horizonte se tornou um canteiro de obras. A construção para duplicação de uma das avenidas mais importantes da capital está na segunda fase. A primeira etapa, que já foi concluída, foi responsabilidade da Prefeitura Municipal. Este trecho vai da rua Viana do Castelo, no bairro São Francisco, até a rua Aporé, no bairro Aparecida e foi entregue em junho de 2007.

Com essas primeiras reformas, foram construídas alças que interligam a Antônio Carlos com o Anel Rodoviário e também às avenidas Bernardo Vasconcelos e Américo Vespúcio. Além das trincheiras, a Secretaria Municipal de Políticas Urbanas da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) confirma a instalação de uma nova iluminação, rede de drenagem e transferência de linhas de ônibus para as pistas de busway. A segunda etapa está a cargo do governo de Minas. O trecho que está sendo trabalhado se inicia na rua Operários, bairro Cachoeirinha, e vai até o Complexo da Lagoinha.

Além de Ronaldo, cerca de outros 350 homens estão envolvidos nas obras, entre eles pedreiros, chefes de obra, encarregados e motoristas. Isso sem contar com a parte administrativa, os arquitetos, engenheiros, assessores e outros funcionários do Consórcio Andrade Gutierrez/ Barbosa Mello, que é a empresa responsável pela segunda fase das obras. O total de empregados contratados para as construções, direta e indiretamente, previsto pela Secretária de Estado de Transporte e Obras Públicas (SETOP), é de 4,7 mil pessoas.


Esses trabalhadores são contratados para tornar real a conclusão da reforma, prometida pelo governo para março de 2010. Está prevista, além do alargamento de pistas, a construção de sete viadutos, com no mínimo duas faixas para cada sentido. Para que essa meta seja comprida, R$ 250 milhões estão sendo investidos, sendo R$ 190 milhões dos cofres estaduais e R$ 60 milhões dos municipais, incluindo o valor pago pelas desapropriações.


Trânsito transviado
O governo pretende beneficiar três milhões de pessoas com as obras de alargamento da avenida. Além de gerar empregos e valorizar o comércio e imóveis na região, o fluxo de carros terá melhor desenvolvimento, facilitando o deslocamento da população. As obras também vão trazer benefícios para os negócios e turismo na cidade. Com a conclusão, os aeroportos da Pampulha e de Confins e o Centro de Feiras e Exposições de Minas Gerais, o Expominas, terão acesso mais fácil para a população.
Mas, para alcançar esses benefícios, desde o início das obras várias mudanças aconteceram no trânsito da cidade. Algumas ruas dos bairros próximos viraram escape dos motoristas que não querem passar pelas construções, incomodando os moradores. O estreitamento de pistas paralisa o tráfego, provocando engarrafamentos. Mudanças nos caminhos dificultaram a orientação das pessoas. Alteração da localização dos pontos de ônibus também tem complicado a vida daqueles que necessitam dos coletivos. Ronaldo garante que quem anda a pé não reclama, mas o Coordenador do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte e Região Metropolitana (STTRBH), Denílson Dornelles, afirma que essas mudanças não estão agradando aos pedestres.

“As alterações ao longo das obras fazem com que os rodoviários não consigam cumprir os horários, o que gera protestos”, diz Dornelles. Ele aponta outro aspecto negativo das obras, que são os engarrafamentos e o estresse gerado com toda a confusão. Afirma ainda que os motoristas têm visto muitos passageiros insatisfeitos com as mudanças e reclamando que chegam atrasados nos trabalhos e em outros compromissos.

Prova disso é o que relata o trocador de ônibus da linha 9801, Lucimar Ramos dos Reis. Segundo ele, todos os dias os passageiros reivindicam algo relativo às obras. “São inúmeros os problemas acarretados com a reforma da Antônio Carlos. Cada dia as paradas de ônibus estão em lugar diferente e na maioria das vezes não somos sequer avisados da mudança do ponto”, conta o trocador.

Por esse motivo, os coletivos fazem mais paradas do que o esperado, já que as pessoas não sabem onde são os verdadeiros pontos e, muitas vezes, nem o motorista. Os passageiros descem em qualquer lugar, onde for mais conveniente, atrasando a duração da viagem.

De acordo com o encarregado de obras Adão Pereira, todas as alterações no trânsito da avenida e no itinerário dos ônibus só são realizadas com a autorização da BHTrans. Todas as mudanças são discutidas e uma meta é imposta para cada encarregado e seus trabalhadores cumprirem.

Por outro lado, Dornelles confirma a fala do trocador Lucimar, afirmando que a BHTrans coloca faixas de avisos sem noticiar nada anteriormente. O coordenador acredita que uma providência capaz de melhorar o trânsito em meio às obras seria colocar estes avisos com antecedência, alertando à população e aos motoristas também, deixando, assim, todos atentos às mudanças.

De acordo com Lucimar, não são apenas as “paradas imaginárias” que atrapalham a vida daqueles que trafegam pela avenida. “No início das obras o itinerário chegava a atrasar cerca de 30 a 40 minutos e em dias de chuva, a situação complicava ainda mais. As pessoas ficavam nervosas porque o ônibus não passava e ainda enfrentávamos congestionamentos”, lembra o trocador.

Além disso, o trânsito vem sendo alterado constantemente. Muitas ruas que cortavam a avenida, como a rua Rio Novo, já não vão até a Antônio Carlos. Retornos são modificados todos os dias, o que confunde os motoristas com faixas pouco explicativas ao longo da via urbana. Lucimar conta que em um dia há duas pistas para trafegar, no outro, esta é tomada por escavadeiras e a pista é divida em duas mãos, piorando assim o engarrafamento.

Batalha entre poeira

A estudante de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Daniela da Silveira Leite, 21 anos, é moradora de um tradicional edifício do bairro Lagoinha. Ela afirma que acorda a cada manhã sem a certeza de onde deve ir: “Cada dia o ponto de ônibus está em um lugar diferente!”, se espanta.

Além de enfrentar as obras no caminho de ida para faculdade, a jovem faz estágio no Conselho Regional de Química (CRQ), no Centro da capital e, mais uma vez, defronta as obras e seus engarrafamentos. Piorando a situação, o horário em que Daniela deixa a faculdade é o mesmo em que várias pessoas estão indo trabalhar na região central. “É comum chegar atrasada no estágio, já aconteceu diversas vezes. Meu chefe até entende, ele sabe que não é minha culpa, mas eu fico muito sem graça. Não tem como eu sair mais cedo das aulas e o trânsito é um terror”, afirma a estudante.

A estudante relata que já ficou cerca de uma hora dentro do ônibus para chegar ao serviço. Um percurso de menos de dez quilômetros, da universidade ao Centro, que antes, não tomava meia hora do seu dia. Ela comenta que para passar o tempo e não se aborrecer tanto costuma ler algum livro ou estudar para prova. Para tornar a vida de Daniela ainda mais difícil, ao voltar para casa, a jovem, pela terceira vez no dia, enfrenta a Antônio Carlos. “Me sinto abençoada. Estão testando a minha paciência”, ironiza.

Denílson Dornelles pensa que “há males que vem para o bem”. Ele acredita que agora a população está sofrendo com todas as mudanças e engarrafamentos, mas, em breve, irá desfrutar de uma avenida com estrutura bem planejada, pistas amplas, onde o trânsito vai fluir com tranqüilidade.

O trocador de ônibus Lucimar não vê a hora de acabarem as obras. Ele garante estar ansioso para ver a conclusão das reformas na avenida. Afirma que, não só pela maior tranqüilidade que vai ter no trabalho, mas também pelo resultado ser um progresso significativo para a cidade.

Daniela, que já pensou até em voltar a pé do trabalho, sabe que as obras são importantes para evolução, fazendo com que a capital ganhe mais destaque no resto do Brasil. Ela espera que as obras valorizem o apartamento da família no bairro Lagoinha e que toda a “batalha” que enfrenta todos os dias, garanta uma contratação no estágio. “Quem sabe...”, sonha.

Além disso, a estudante conta que espera chegar com mais rapidez ao Mineirão para ver o Brasil jogar em 2014. “Em breve teremos a Copa do Mundo e é bom saber que a cidade contará com uma via de acesso à Pampulha melhor estruturada.”, completa.

Para o pedreiro Ronaldo, a duplicação da avenida Antônio Carlos é apenas mais uma obra da qual ele já participou. A construção da casa própria, em Contagem, é mais significativa para ele, mas, claro, também se sente orgulhoso de ter feito parte de uma reforma que vai trazer melhorias para Belo Horizonte. “Outro dia, minha mulher foi em uma reunião na escola da minha filha. A professora contou que a pequena, quando perguntada sobre a profissão do pai, diz que ele constrói avenida”, conta, com um sorriso nos lábios e um cigarro entre os dedos.

2 comentários:

  1. -Sugiro o auxílio de um manual para checar a padronização;
    -Vírgula: no bairro Aparecida, e foi entregue;
    -Preposição: Antônio Carlos ao Anel;
    -Sugiro tirar: que é a empresa;
    -Ortografia: Para que essa meta seja 'cumprida` (-1);
    -Cuidado com a repetição;
    -O que querem dizer com "trânsito transviado"?;
    -Não usar dois pontos para introduzir citação seguida de verbo dicendi: “onde deve ir: ‘Cada dia o ponto de ônibus está em um lugar diferente!’, se espanta.” É redundante;
    -Artigo: para 'a' faculdade (-1);
    -Acentuação: há males que “vêm” para o bem (-1);
    -A trema foi abolida;
    -Obras são importantes para evolução? Como assim?;
    -Vírgula: toda a “batalha” que enfrenta todos os dias, garanta uma (-1)
    -Boa matéria, sobretudo quando o texto se humaniza. Mais atenção com a Norma Culta.

    Nota de Produção: 17/20.

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