segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Transportes e transtornos

TRO, o Transporte Rápido por Ônibus, será implantado em Belo Horizonte até 2013. Enquanto isso, moradores sofrem com as obras da Antônio Carlos

O acesso ao Mineirão e ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves será facilitado, em função da Copa do Mundo de 2014. A Prefeitura de Belo Horizonte, através da BHTrans, implantará, nas avenidas Antônio Carlos e Pedro I, o sistema de Transporte Rápido por Ônibus (TRO).

O TRO terá inicialmente 39 quilômetros de linha. As estações de embarque e desembarque do novo transporte serão controladas por um sistema eletrônico e toda a movimentação será gerenciada por painéis dentro dos veículos e também nas estações, transmitindo informações constantes aos usuários.

Os veículos do novo sistema são articulados ou biarticulados, através de um mecanismo chamado de sanfona, que aumenta o comprimento do coletivo em até o equivalente a três ônibus convencionais, ampliando a capacidade de transporte de passageiros. O modelo de operação é semelhante ao do metrô, com a vantagem de não precisar da instalação de trilhos, diminuindo os custos da implantação.




TRO em Bogotá, Colômbia


O projeto em implantação em Belo Horizonte é similar ao Transmilenio, em funcionamento na cidade de Bogotá, na Colômbia. Esse mesmo sistema será utilizado nas cidades-sede do mundial de 2010, na África do Sul. No Brasil, o TRO já circula desde a década de 1970 na cidade de Curitiba, no Paraná.

A previsão, segundo a BHTrans, é de que o Transporte Rápido por Ônibus esteja em operação até o segundo semestre de 2013, durante a Copa das Confederações. O início das obras depende da conclusão da Avenida Antônio Carlos, prevista para março de 2010, e do início das obras de duplicação da Avenida Pedro I, no mesmo ano. Isto porque somente após a duplicação dessas vias, a pista exclusiva do TRO poderá ser construída.

Os incômodos

Na Antônio Carlos, enquanto operários correm contra o tempo para concluir a duplicação da avenida, os moradores da região da Lagoinha sofrem com os transtornos provocados pelas obras. Falta de água, luz, poluição sonora, aumento da violência e dificuldades de locomoção nas calçadas são alguns dos problemas enfrentados todos os dias por quem circula pela avenida.
A comerciante Terezinha de Oliveira Mendonça mora no bairro Lagoinha há 60 anos, não se lembra de outra obra desse porte na região e que causasse tantos incômodos. “Eles estão enrolando. Desmancha, faz de novo, torna a desmanchar. Até o comércio está ruim”, enfatiza.

Avenida Antônio Carlos, em frente ao Conjunto IAPI

A dona de casa Gilda Camargos acredita que, em um futuro próximo, as obras trarão benefícios para a região. Mas, por enquanto, os problemas decorrentes do projeto só aumentam, principalmente durante as chuvas. “A chuva dificulta o término dos serviços e atrapalha a passagem das pessoas.” Gilda também lida com um contratempo bastante próximo. “Na porta da minha casa, há um buraco que deveria ser fechado em uma semana. A semana passou e outro buraco foi aberto”.


Moradores de outros bairros reclamam da dificuldade para transitar pelas calçadas. A jornalista Alzira Maia, do bairro Santo André, ressalta a importância do registro histórico do trecho mais afetado pelo projeto. “A paisagem de Belo Horizonte está sendo modificada. É importante que a prefeitura tenha um acervo fotográfico da região para preservar a memória da área”. Alzira reclama dos obstáculos que os pedestres têm que enfrentar para atravessar alguns trechos da Antônio Carlos. “Meu filho atravessa a avenida todos os dias, no trecho em frente ao Hospital Belo Horizonte, e realmente está um caos no local.”


O estudante de mecânica Thales André da Cruz, do bairro Conjunto Ribeiro de Abreu, afirma que o trânsito da avenida está caótico em função dos vários desvios e do aumento do fluxo de veículos na região. Os problemas de Thales começam ao descer do ônibus, já que está com uma perna quebrada. Usando muletas, o estudante de mecânica do Senai Lagoinha caminha com dificuldade pelas calçadas esburacadas e cheias de lama. “No meu caso, preciso de mais espaço para andar, de um piso mais regular. Para mim, as obras têm causado muitos problemas.”


Entretanto, alguns moradores têm visões mais otimistas acerca do projeto, como é o caso do estudante de Engenharia Mecânica José Rodolfo de Oliveira. “É natural certo transtorno, afinal de contas, não se faz uma obra de grande porte sem um pouco de incomodo”, diz. Para ele, o trânsito da Avenida Antônio Carlos está sendo bem conduzido. “Está fluindo bem para as dimensões da obra. O resultado vai trazer realmente uma melhoria para o transporte público e particular”, completa.


Estudantes do UniBH têm dificuldade no acesso


O acesso ao UNI-BH também fica complicado com as obras. A maior parte dos alunos chega ao Campus pela Avenida Antônio Carlos, o que atualmente vem gerando muito tumulto e reclamação. “Está sendo difícil chegar no horário. Venho de van e, como tantos outros motoristas, o que me leva até o UNI opta pelo acesso à Antônio Carlos. Antes das obras, chegávamos com 15 minutos de antedecedência, agora chegamos em cima da hora”, comenta o estudante de eventos, Luiz Henrique.


Para ele, o que mais causa transtorno é a falta de organização do trânsito e também de tantos outros motoristas de van que param em locais inadequados para deixar os estudantes próximos da faculdade. “Agora, a gente tem que parar do outro lado da avenida, esperar o sinal fechar, o que demora ainda mais para chegar até a faculdade. O que fica pior é na volta. A gente tem que fazer o mesmo trajeto e esperar num lugar bem afastado que, conforme o horário, fica mais perigoso”, diz o aluno.




Na Rua Francisco Solcasseaux, em frente ao UniBH, vans disputam lugar com o entulho da obra



O motorista de van Rubens Meireles reclama dos transtornos. “Do UNI, faço sentido Floresta na ida e, na volta, Carlos Luz. Então, fica complicado. Se eu pego os alunos na portaria da Diamantina, é uma confusão para deslocar e seguir meu trajeto. É muito trânsito e o que piora mais é que a Diamantina, sendo duas mãos, atrai ainda mais confusão. Agora, pela Antônio Carlos, a desordem é geral. Além dos ônibus que mudaram o ponto para o acesso dos alunos, outras vans param em espaços inadequados, e a maioria dos motoristas chega bem mais cedo e fica nesses lugares, piorando ainda mais a circulação dos demais”.

Ainda para o motorista, a situação é inviável. A falta de policiamento aumenta a intransigência de motoristas tanto de carro, quanto das vans, e, além de gerar os atrasos dos alunos, aumenta os riscos. “Essa região não é lá confiável, ela é perigosa e agora, com as obras e ainda a demolição de alguns prédios, aumentou o número de roubos, segundo queixas que já ouvi. Agora, fica difícil achar um lugar mais apropriado e seguro para deixar os alunos. O que mais faço é alertar sobre os cuidados a serem tomados quando descerem da van. Lembro disso todos os dias, porque às vezes eles até esquecem o perigo que correm”.

E para quem depende do transporte público da capital, a situação também não é nada favorável. O estudante de jornalismo do UNI-BH, Gilmar Santos, que mora no bairro Vila Clóris, tem que caminhar um longo percurso até chegar ao ponto de ônibus, que foi transferido para dar lugar a uma das novas pistas da Avenida Antônio Carlos.

Para Gilmar, a mudança nos pontos de ônibus aumentou os riscos para quem necessita do transporte. “Além da distância enfrentada, o local se tornou perigoso devido à falta de iluminação e a uma sinalização muita precária. Tenho que atravessar a rua e não existe faixa de pedestre, um grande perigo para todos que passam pela região. Em alguns momentos, para chegar ao meu ponto, ando muito próximo aos carros em função da falta de calçadas”, afirma.

A palavra da BHTrans

De acordo com a BHTrans, a recolocação dos pontos é necessária, e realmente pode ser incômodo para a população. A empresa trabalha juntamente com a Andrade Gutierrez, empreiteira responsável pela execução da obra, em consórcio com a Barbosa Mello. As duas empresas estudam os melhores locais para que os pontos sejam transferidos. Ainda segundo a BHTrans, ao final da obra, os pontos de ônibus serão novamente reposicionados, com algumas melhorias.

Segundo a assessoria da BHTrans, as pessoas que passam diariamente pela região devem ter paciência, já que, no caso de uma obra desse porte, os transtornos são inevitáveis. A assessoria diz que se reúne com representantes dos moradores da região para discutir modos de minimizar os problemas. Dessa forma, a população pode expor seus questionamentos.

Em breve, será construído um viaduto próximo ao UNI-BH. A empresa vai estudar, juntamente com a Andrade Gutierrez, um possível adiamento na construção da nova via, devido ao período de chuvas e às provas do centro universitário, para que o trânsito não fique tão caótico. Caso a proposta seja aprovada, a construção do viaduto será retomada no período de férias, em janeiro de 2010. A Andrade Gutierrez não foi encontrada para falar sobre o assunto.
A obra

Executada pelo Governo de Minas, juntamente com a Prefeitura de Belo Horizonte, a última etapa das obras de duplicação da Avenida Antônio Carlos deve ser concluída até março do ano que vem. Foram investidos R$ 250 milhões no trecho compreendido entre a rua dos Operários, no bairro Cachoeirinha, e o Complexo da Lagoinha, que terá 12 faixas de tráfego, sendo quatro exclusivas para ônibus.


Prospecto do trecho em frente ao Conjunto IAPI, com um dos sete viadutos que serão construídos na Antônio Carlos


Entre os usos potenciais da via, está a ligação entre o Aeroporto da Pampulha e o Aeroporto Internacional Tancredo Neves (Confins), com o objetivo de ampliar o turismo de negócios na capital. Atualmente, a avenida dispõe de três faixas de tráfego, que não comportam o grande número de veículos que circulam diariamente.

Finalizando a estrutura, serão construídos sete viadutos, com objetivo de facilitar o acesso aos bairros adjacentes, sem interferir no tráfego principal da avenida. Cada viaduto terá duas faixas por sentido de tráfego.

Informações específicas

Empresa Responsável
Consórcio Andrade Gutierrez/ Barbosa Mello

Números da Antônio Carlos:
- Início das obras: 21 de junho de 2007
- Previsão de entrega: março de 2010
- Extensão: 2,2 km

- Valor de Investimento Total: R$ 250 milhões, sendo:
1 - Governo de Minas R$190 milhões (76%)
2 - Prefeitura de Belo Horizonte R$60 milhões (24%)

- Valor Investido em Infraestrutura: R$139 milhões (55,6%)
- Valor Investido em Desapropriações: R$111 milhões (44,4%)
- Viadutos a serem edificados: 7
- Imóveis desapropriados: 240
- Número de empregos diretos e indiretos: 4.700
- Previsão de conclusão das obras: Março de 2010
- Largura atual das pistas: 25 metros
- Largura Prevista: 52 metros
- Número de árvores a serem plantadas: 1500
- Número de faixas de tráfego em cada sentido (pós duplicação): 4
- Número de faixas em cada sentido na busway (pós duplicação) 2
- Número de veículos/dia: 85 mil

Reportagem: Cristiane Perpétuo de Souza Silva, Jamile Versiani Martins, Paula Alves de Paula e Sheila Chaves de Figueiredo (JRN6B)

Um comentário:

  1. -Vírgula entre sujeito e verbo: O projeto é (-1);
    -Usem um Manual para normatizar o texto;
    -Cuidado com as repetições;
    -Concordância: a maoiria fica (-1);
    -Acentuação: tráfego (-1).

    Ótima reportagem.

    Nota: 23/25.

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